Enquanto Dilma vai ao brejo, rivais ficam tontos
É dura a vida do brasileiro. Faltam-lhe dinheiro e emprego. Sabram-lhe desalento e indignação. Dilma é a principal responsável. Fascinada pelo caminho do brejo, ela arruinou a economia e conviveu com os larápios que invadiram os cofres sob Lula. A oposição quer podar-lhe o mandato. Beleza. Mas se madame for embora não será por isso que o dinheiro, o emprego e a probidade reaparecerão. Embriagada com o insucesso do governo, a oposição se desobrigou de oferecer esperança.
As coisas ficaram fáceis para os antagonistas do governo. Tão fáceis que a oposição desperdiça a paciência alheia repetindo que a queda de Dilma restaurará a decência e recolocará a economia nos trilhos. Depois que a presidente se for, essas mesmas vozes se entenderão com o PMDB, cleptoaliado de todos os governos, e proporão uma gestão de união nacional —no melhor estilo um por todos e todos por hummmmmm!
Em termos práticos, há dois mecanismos legais para mandar Dilma de volta para casa. O Congresso pode aprovar o impeachment. Nessa hipótese, assume o comando o vice-presidente Michel Temer, do PMDB. O encurtamento do mandato pode ser determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Nesse caso, deixariam o Planalto Dilma e Temer. Se a cassação ocorrer até o final do ano, convocam-se novas eleições. Se vier a partir de 2017, o novo presidente será escolhido pelo Congresso, em eleição indireta.
O PSDB, maior partido da oposição, não sabe o que quer. Mantém um pé em cada canoa. Supondo-se que opte pelo impeachment, cabe indagar: o réu Eduardo Cunha presidirá o processo na Câmara? O multi-investigado Renan Calheiros comandará o show no Senado? O que significa trocar Dilma por Temer? Cunha e Renan estarão no pacote do vice? Paulinho da Força, um prontuário aliado do tucanato, participará do governo de união nacional? São perguntas que ninguém responde.
Admitindo-se que a encrenca seja transferida para a Justiça eleitoral, manda a Constituição que, em caso de cassação da chapa presidencial, assume o governo o presidente da Câmara, para convocar novas eleições em 90 dias. Quem aceitará chamar Eduardo Cunha de presidente da República por três meses? Se o processo deslizar para 2017, como conviver com a ideia de delegar para um Congresso apodrecido a escolha de um presidente-tampão? De novo, ninguém responde.
A hipótese do impedimento pisca no horizonte desde que o delator Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, revelou ter borrifado R$ 7,5 milhões em verbas sujas nas arcas da reeleição. A prisão de João Santana, marqueteiro das campanhas petistas, fez do pisca-pisca uma lanterna. Que virou um farol com a delação de Delcídio Amaral. E tornou-se um canhão de luz com a inclusão de Lula no rol de investigados e com o cheiro de enxofre que exala das delações que estão por vir.
Graças à Lava Jato e à inépcia gerencial de Dilma, o governo derrete. E sua liquefação faz com que o aspecto mais notável da crise passe a ser a debilidade da oposição. Não se trata nem de repetir que a oposição não tem projeto. Faltam-lhe, em verdade, liderança e miolos para transformar o vapor da crise em energia transformadora. Hoje, os rivais de Dilma e Cia. limitam-se a rezar para que o asfalto pegue fogo no dia 13 de março. Para quê?
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