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Josias de Souza

Planalto suspeita que Renan faz um ‘jogo duplo’

Josias de Souza

27/03/2016 21h26

Auxiliares petistas de Dilma Rousseff passaram a enxergar o aliado Renan Calheiros (PMDB-AL) como uma espécie de São Jorge às avessas. Receiam que o presidente do Senado esteja fazendo jogo duplo. Em público, passa a impressão de que deseja salvar a presidente. Longe dos refletores, flerta com o dragão do impeachment. A suspeita do Planalto é compartilhada por senadores do PT.

Nos subterrâneos, operadores políticos de Dilma alegam que Renan já não pega em lanças pelo governo como antes. Reunidos com Lula na semana passada, senadores petistas também lhe disseram que o senador tricota para fora, achegando-se ao PSDB. Mencionam o comportamento do senador Romero Jucá (PMDB-RR), um parceiro de Renan que opera abertamente pelo impeachment.

A parceria de Dilma com Renan torna o discurso da presidente desconexo. Há três dias, em conversa com jornalistas estrangeiros, Dilma referiu-se ao impeachment como um "golpe". E atribuiu o processo a Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Como ele surge?", perguntou Dilma, antes de responder:

"O presidente da Câmara, para evitar o processo de cassação, tenta maioria dentro do Conselho de Ética e ameaça o governo. O governo não lhe dá os votos. E abre-se o processo de impeachment. Eduardo Cunha foi denunciado. A Procuradoria-Geral da República o associou a cinco contas no exterior, dizendo ser ilegais. Não sou eu que estou dizendo, é a Procuradoria-Geral da República."

Dilma esqueceu de mencionar que pressionou o PT para entregar a Cunha os votos que enterrariam no Conselho de Ética da Câmara o pedido de cassação do mandato do deputado. A articulação não vingou porque os petistas com assento no conselho, após muita hesitação, decidiram não entregar seus votos a Cunha.

De resto, Dilma realça a denúncia da Procuradoria contra Cunha ao mesmo tempo em que finge desconhecer uma denúncia e nove pedidos de inquéritos que correm contra Renan no STF. Como se fosse pouco, Dilma se esforça para levar para o seu ministério o investigado Lula.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.