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Josias de Souza

Gestão Dilma acaba com ou sem impeachment

Josias de Souza

09/04/2016 04h15

Assim que for concluído o espetáculo congressual do impeachment o governo Dilma Rousseff sairá de cartaz. Isso ocorrerá em qualquer circunstância. Aprovado o impedimento, Dilma iniciará prematuramente sua viagem de volta para o esquecimento. Arquivado o pedido na Câmara, ainda assim haverá um "governo novo" em Brasília, informam auxiliares da presidente. Nele, reservou-se para Dilma um papel de coadjuvante.

Nas palavras de um ministro, Lula está prestes a se tornar o primeiro líder político a fazer o sucessor três vezes consecutivas: elegeu Dilma em 2010, reelegeu-a em 2014 e guerreia para salvá-la agora, em 2016. Em privado, Lula diz aos aliados que só topou liderar a operação de resgate mediante condições. Imagina estar claro que, se tiver êxito, dará as cartas. Tendo feito Dilma, quer impedir que ela o desfaça.

O plano de trabalho de Lula para o dia seguinte contém três prioridades: desintoxicar o ambiente, restaurar a base congressual do governo e alterar os rumos da política econômica. Paradoxalmente, o planejamento é diferente para o caso de a Câmara dar sequência ao pedido de impeachment, enviando-o ao Senado. Nessa hipótese, o PT e seus devotos planejam "incendiar" o país enrolados na bandeira do "golpe".

Em realidade, se tudo correr como planejado por Lula, o governo a ser reinaugurado em Brasília não será novo, mas seminovo. E Dilma não será a única sub-Lula. O próprio Lula é bem menor do já foi. Nas ruas, é representado pelo Pixuleco. Na Lava Jato, é um investigado. Está separado da caneta do juiz Sérgio Moro por uma liminar do ministro Teori Zavascki, do STF.

Essa caricatura de Lula trocou o título de ex-presidente pela condição de ex-quase-futuro-ministro. Dessacralizado, o personagem já não tira leite de pedra. Divide-se entre os depoimentos à força-tarefa da Lava Jato e os despachos nos fundões de um quarto de hotel. E reza para que uma nova delação não lhe caia sobre a calva.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.