Topo

Josias de Souza

Desembarque do PP pode ser o beijo da morte

Josias de Souza

12/04/2016 20h25

Encena-se nesta terça-feira em Brasília a coreografia mais melancólica do processo de impeachment de Dilma Rousseff. O PP, Partido Progressista, campeão no ranking de encrencados no petrolão, decidiu desembarcar do governo. O gesto pode significar o beijo da morte para o governo.

A portas fechadas, o PP contou seus votos. Dos 47 deputados da legenda, 37 informaram que estão fechados com o impedimento de Dilma. Nove gostariam de votar contra. Um se manteve em silêncio. Consumado o resultado, o líder Aguinaldo Ribeiro, que era contra a deposição da presidente, passou a costurar a unanimidade pró-impeachment.

A resistência da cúpula do PP funcionava como um dique. A posição majoritária dos deputados rompeu a barragem. Os próprios operadores políticos do governo admitem, em privado, que a enxurrada pode arrastar para o lado da oposição os votos que faltavam para ultrapassar a marca dos 342 necessários à abertura do processo de impeachment.

O governo receia perder o controle que ainda imaginava ter sobre o PR do mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto e o PSD do ministro Gilberto Kassab. Saltam do barco governista também legendas menores, como o PRB (22 deputados) e o PTN (13 deputados).

Sucede com Dilma um fenômeno típico de governantes em fim de linha: as bases dos partidos desautorizam os acordos fechados pela cúpula. Fisiológicos até a alma, os deputados do PP, por exemplo, batem em retirada no instante em que Lula oferece aos dirigentes da legenda a pasta da Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal.

Deve-se o desapego a dois fatores. O primeiro é que os políticos já não confiam em Dilma. Duvidam até que ela vá entregar o que promete se sobreviver ao impeachment. O segundo fator é a voz do asfalto. Deputado é capaz de tudo, menos de se indispor com o seu eleitor. Sem o dinheiro fácil da Petrobras, o apoio a Dilma tornou-se um empreendimento falimentar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.