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Josias de Souza

Dilma vaticinou em 2014: ‘Sem apoio é impossível assegurar governo estável'

Josias de Souza

16/04/2016 04h11

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"Sem apoio no Congresso Nacional não é possível assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais." Pronunciada por Dilma Rousseff em setembro de 2014, essa frase compôs a artilharia da então candidata à reeleição contra a oponente Marina Silva.

Num debate eleitoral, Dilma insinuou que a "nova política" de que falava Marina conduziria o país ao desastre. O comentário foi reproduzido na propaganda da campanha petista (veja no vídeo). Nela, um locutor declarou: "Duas vezes na nossa história o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do governo do eu sozinho. E a gente sabe como isso acabou."

Ao fundo, aparecem notícias de jornal sobre a renúncia de Jânio Quadros e o impeachment de Fernando Collor. Quando comparou Marina a tais personagens, Dilma era apoiada por um conglomerado composto de 14 partidos. Uma superestrutura em que cabia de tudo —de Paulo Maluf ao próprio Collor. O tempo passou. E o feitiço virou-se contra a feiticeira.

Dilma experimenta agora uma modalidade de solidão, que é a companhia do PT e do PCdoB. Abandonaram-na: PMDB, PP, PR, PSD, PTB… Neste domingo, a presidente irá à sorte dos votos no plenário da Câmara com receio de não dispor das 172 presenças, ausências ou abstenções de que necessita para evitar que seus antagonistas alcancem o número mínimo de votos para abrir o processo de impeachment: 342.

Eis o que dizia a campanha de Dilma em 2014. "A base de apoio de Marina Silva tem, hoje, 33 deputados. Sabe de quantos ela precisaria para aprovar um simples projeto de lei? No mínimo 129. E uma emenda constitucional? 308. Como é que você acha que ela vai conseguir esse apoio sem fazer acordos? E será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?"

Dilma era apresentada como personagem jeitosíssima: "…Reúne tudo o que um governante precisa: tem conhecimento dos problemas, sabe como construir as soluções, e tem força política para realizar os seus projetos porque numa democracia ninguém governa sem partidos, ninguém governo sozinho."

Considerando-se tais critérios, Dilma seria hoje uma presidente inviável. Mesmo que sobrevivesse ao impeachment por um placar mixuruca, não disporia de uma base congressual para "assegurar um governo estável, um governo sem crises institucionais." E a Lava Jato impediria o PT de providenciar um novo mensalão ou um novo petrolão para comprar apoiadores.

 

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.