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Josias de Souza

Toda delação será castigada, sinaliza o Senado

Josias de Souza

10/05/2016 21h51

A decisão foi praticamente unânime. Havia no plenário 76 senadores. No comando da sessão, Renan Calheiros (PMDB-AL) não votou. Presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto (PMDB-MA) se absteve de votar. Os outros 74 senadores votaram a favor da cassação do mandato do colega Delcídio Amaral (veja a lista). Impressionante!

Delcídio era um senador com extraordinário trânsito. Ex-tucano, elegeu-se pelo PT. Relacionava-se bem com todo mundo. Jeitoso, tornara-se líder de Dilma no Senado. Em 25 de novembro, caiu na malha da Lava Jato. Mas só perdeu o respeito dos colegas depois que decidiu suar o dedo em troca de benefícios judicias. O Senado deu a Delcídio um desprezo semelhante ao que a bandidagem dedica a um X9.

Na cadeia ou no morro, o delator é passado nas armas. No Senado, Delcídio recebeu uma sentença de morte política. Ficará inelegível por oito anos. Mas o prazo só começa a ser contado no final do mandato. O degredo de Delcídio será de 11 anos. Não poderá pedir votos antes de 2027.

Escorado na delação de Delcídio, o procurador-geral Rodrigo Janot pediu ao STF autorização para abrir inquérito contra personagens graúdos: Dilma, Lula, Jaques Wagner e Eduardo Cunha, por exemplo. No Senado, desceram à grelha um nomão da oposição, Aécio Neves, e a cúpula do PMDB: Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho e Valdir Raupp.

Outros senadores que têm a Lava Jato no seu encalço solidarizaram-se automaticamente. Quem não tem calcanhares de vidro aderiu à onda: 'Estamos juntos'. Cogitou-se adiar a votação. Mas Renan Calheiros, com 12 inquéritos da Lava Jato sobre os ombros, bateu na mesa: ou a Casa passava na lâmina o mandato de Delcídio ou o afastamento de Dilma seria adiado. E o ex-líder do governo foi expurgado sem dó.

Pilhado tentando comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró, Delcídio alega que agiu a mando de Lula e Dilma. Sustenta que seu crime é obstrução de Justiça. Disse aos colegas, na véspera, que não roubou nem tem dinheiro na Suíça. Foi como se dissesse, com outras palavras: "Não me virem as costas, tem gente pior do que eu aqui." E o Senado, em uníssono: Toda delação será castigada.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.