Faltou algo à chegada de Michel Temer: recato
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Investido na condição de presidente em exercício, Michel Temer disse no pronunciamento inaugural de seu governo provisório mais ou menos tudo o que se esperava ouvir dele. Falou em diálogo e salvação nacional. Citou reformas. Elegeu como prioridade a interrupção da queda livre da economia. "Em letras garrafais", jurou que manterá os programas sociais. Em letras mais miúdas, fez uma rápida referência elogiosa à Lava Jato. Mas faltou algo à primeira cerimônia do governo seminovo do PMDB: recato.
Os novos donos do poder foram recepcionados no Planalto sob o barulho de uma queima de fogos de artifício. Era como se a gestão peemedebista tivesse acaba de sair das urnas. Temer não cabia em si. Normalmente sisudo, sorria à larga. Ao discursar, engasgou um par de vezes. Pediu água e pastilhas. Chamados pelo nome, os ministros, em sua maioria deputados e senadores, assinaram o livro de posse sob aplausos efusivos dos colegas. Pareciam personagens de uma festa de formatura. A atmosfera de celebração juvenil não combinava com a gravidade do momento.
Para completar a cena, desfilaram pelo salão de cerimônicas do Planalto personagens como o deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que relatou na Câmara o processo de impeachment de Dilma, e o senador tucano Aécio Neves, presidente do PSDB, partido que migrou da oposição para dentro do governo-tampão de Temer.
Havia risos demais no Palácio do Planalto. E nada parece mais obsceno do que o riso em meio às tragédias econômica, ética e política. Todos vestiam terno na solenidade do Planalto. Mas estariam mais compostos nus, com uma folha de parreira no rosto.
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