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Josias de Souza

Mordomias: ‘Cunha só teve o que a Dilma tem’

Josias de Souza

15/05/2016 13h39

Para o primeiro-secretário Beto Mansur (PRB-SP), as regalias concedidas a Eduardo Cunha, afastado pelo STF do mandato e da presidência da Câmara, não podem ser analisadas isoladamente. "Eu também acho que há um excesso, mas é excessivo para os dois lados. O Eduardo só teve o que a Dilma também teve", disse ele, em conversa com o blog.

Em resolução articulada por Mansur, a mesa diretora da Câmara assegurou a Cunha, conforme já comentado aqui, salário integral de R$ 33.763 por mês, R$ 92 mil para os funcionários do gabinete, carro oficial, avião da FAB, equipe de guarda-costas, casa, comida e roupa lavada.

Tudo isso sem que o presidente afastado da Câmara precise suar a camisa, já que o STF considerou, em decisão unânime dos seus 11 ministros, que a permanência dele no Legislativo feria os "princípios de probidade e moralidade que devem governar o comportamento dos agentes políticos."

Mansur disse ter quebrado a cabeça para compatibilizar a decisão do STF com os interesses da Câmara. Contou que reuniu "as melhores cabeças" da assessoria técnica da Casa. Segundo disse, não houve consenso. "É tudo inédito, o Supremo nunca tinha afastado um presidente da Câmara." Decidiu-se, então, engatar a decisão da Câmara à deliberação que seria tomada pelo Senado no caso de Dilma, afastada por 180 dias para ser julgada no processo de impeachment.

A resolução da Câmara, disse Mansur, baseou-se no ato do Senado que listou os "direitos" que Dilma preservará enquanto durar o seu afastamento. "A Dilma vai ficar no Alvorada, o Eduardo permanecerá na casa da Câmara. Ela vai ter assistência médica, ele dispõe da assistência médica como deputado. Ela vai ter segurança, ele também. Ela terá direito a transporte aéreo e terrestre. Eu reproduzi a mesma coisa para ele. Ela contará com uma equipe de 15 assessores. Ele continuará recebendo os R$ 92 mil a que os deputados têm direito para remunerar a equipe de seus gabinetes."

Não receia que a decisão da Câmara provoque uma ação popular na Justiça?, perguntou o repórter. E Mansur: "Pode ter ação. Só que agora, como fizemos junto com a decisão sobre a Dilma, se forem em cima do Eduardo devem ir em cima dela também. Quem sabe dá um breque nisso tudo. Tivemos que achar um jeito porque não havia nada definido sobre o assunto. Acho que há excessos dos dois lados."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.