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Josias de Souza

Certas nomeações de Temer ofendem a lógica

Josias de Souza

03/06/2016 19h15

Se os valores morais fossem negociados na Bolsa de Valores, o governo provisório de Michel Temer já seria um empreendimento falido. O despudor com que o presidente interino nomeia auxiliares suspeitos ofende até a lógica.

Chama-se Fátima Pelaes a penúltima anormalidade a escalar o organograma do governo Temer. Acusada pela Procuradoria da República de integrar uma "articulação criminosa", ela foi nomeada chefe da secretaria de políticas para as mulheres.

Ex-deputada federal pelo PMDB do Amapá, Fátima destinou emendas orçamentárias para uma ONG fantasma. Coisa de R$ 4 milhões. Pilhada na Operação Voucher, da Polícia Federal, ela foi processada no STF. Como não se reelegeu, o processo desceu para a primeira instância do Judiciário.

"Processado não é condenado", diz o bordão adotado pelo governo para justificar a conversão de suspeitos em autoridades. É mesmo difícil a vida do brasileiro. O sujeito vai à rua para exigir moralidade e descobre que o substituto constitucional da desfaçatez é o despautério.

Temer abriu a semana reafirmando, "pela enésima vez", que seu governo "não vai interferir na Lava Jato". E fechou a semana enviando ao Diário Oficial a nomeação de mais uma suspeição. Quer dizer: não é que o governo provisório não veja uma solução para déficit moral. O que ele não enxerga é o problema.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.