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Josias de Souza

Lula desce ao inferno da ‘República de Curitiba’

Josias de Souza

14/06/2016 04h29

Hoje em dia, segundo uma crença que se espraia por toda a oligarquia nacional, Curitiba é outro nome para inferno. Inquéritos sempre existiram. A novidade —que não começou agora, mas ganhou escala industrial com a Lava Jato— é que o investigador, o procurador e o juiz passaram a investigar, procurar e julgar como se todos fossem iguais perante a lei.

"Sinceramente, eu tô assustado com a República de Curitiba!", exclamou Lula no grampo que o juiz Sérgio Moro mandou instalar em março, quando ainda ajustava o nível das labaredas reservadas ao pajé do PT. Para fugir da grelha do doutor, Lula topou tudo, inclusive virar subordinado da sucessora que carregara nos ombros em duas eleições. Trocou a condição de ex-presidente pela de piada.

Depois de fracassar no sonho do poder eterno, Lula tentou pelo menos evitar a realização dos seus pesadelos. Não deu. Na noite passada, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no STF, enviou a anedota para o inferno. E Lula amanhece nesta terça-feira (14) sob o tridente do doutor Moro. Junto com ele, desceram do Supremo à grelha três ex-ministros petistas: Edinho Silva, Jaques Wagner e Ideli Salvatti.

Brasília conviveu razoavelmente com a Justiça convencional, que desafiava autoridades, mas não atentava contra a integridade do sistema inteiro. O petismo aguentou os seus anos de decomposição escorando suas desculpas no cinismo e protegendo seu líder atrás do escudo do "eu não sabia". Mas a Lava Jato abalou tradições e costumes. Foram em cana pessoas que se imaginavam acima da lei.

O inferno registra altos índices de produtividade. Em dois anos, Sérgio Moro proferiu 105 condenações. Somam 1.140 anos, 9 meses e 11 dias de prisão. A frase "onde é que isso vai acabar?" perdeu momentaneamente o sentido. Até onde a vista alcança, não acaba. Ou por outra: Lula chegou, finalmente, a uma República onde o descalabro costuma acabar na cadeia.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.