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Josias de Souza

Cunha esperava livrar sua família do juiz Moro

Josias de Souza

23/06/2016 00h04

Em privado, Eduardo Cunha já se mostrava conformado com a perspectiva de virar réu pela segunda vez no STF. Mas ruminava a esperança de livrar sua família dos rigores de Sérgio Moro. Acreditava que conseguiria içar de Curitiba para Brasília o processo que envolve sua mulher, Cláudia Cruz, e sua filha, Danielle Dytz. No limite, sonhava com a transferência do caso para a Justiça Federal do Rio de Janeiro.

Por 9 votos a 2, os ministros do STF frustraram as espectativas de Cunha, mantendo o processo sob os cuidados do juiz Sérgio Moro. Os amigos receiam que a decisão afete o ânimo do presidente afastado da Câmara. Ele já havia demonstrado sinais inéditos de abatimento com a notícia de que Moro convertera sua mulher em ré pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Cláudia Cruz é titular de uma conta bancária na Suíça abastecida com verbas sujas amealhadas por Cunha.

Danielle, a filha de Cunha, não foi denunciada pela força-tarefa da Lava Jato. Ela também tinha acesso às verbas da conta, por meio de um cartão de crédito. Mas os investigadores consideraram que, por ora, não há evidências de que soubesse que o dinheiro era proveniente de corrupção. O problema é que, para desassossego de Cunha, os procuradores informaram que Danielle continua sob investigação.

O envio de Cunha ao banco dos réus pela segunda vez tornou ainda mais precária sua situação política. Mesmo os aliados mais próximos do deputado avaliam que sua cassação é irreversível. Confirmando-se o que parece inevitável, Cunha conseguirá finalmente ser julgado na mesma jurisdição de sua mulher e filha. Sem mandato, perderá o foro privilegiado. E também ficará ao alcance de Sérgio Moro.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.