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Josias de Souza

Temer vê agosto como o mês da consolidação

Josias de Souza

01/08/2016 04h21

Um auxiliar de Michel Temer recorre a uma analogia inusitada para explicar a importância do mês de agosto para o presidente interino. "Mal comparando, o poder é como a gravidez", diz ele. "Assim como nenhuma mulher pode estar um pouquinho grávida, um chefe de Estado não pode ser um pouco poderoso. Agosto é importante porque será o mês em que o Michel vai se livrar da alcunha de interino."

O mesmo auxiliar afirma que, no momento, nada provoca em Temer mais desconforto do que sua condição de presidente temporário. Para ele, interinidade é um outro nome para impotência. "Em pouco tempo, o Michel já demonstrou que tem credenciais para permanecer ao volante. Concluído o julgamento do impeachment, poderá mostrar ao país que dispõe de um itinerário."

Nesta segunda-feira, 1º de agosto, Temer receberá no Palácio do Jaburu os líderes dos partidos que o apoiam na Câmara. Os parlamentares voltam das férias. E serão instados a apressar a votação das propostas econômicas do governo —a começar pela emenda constitucional que fixa a inflação do ano anterior como teto para as despesas públicas. A tramitação está apenas começando. O projeto deve chegar ao plenário entre o final de outubro e o início de novembro. Aprovado, irá ao Senado.

Entre os senadores, a prioridade zero de Temer é a confirmação do impeachment de Dilma. O STF marcou o início do julgamento para o dia 29 de agosto. Até lá, Temer espera colocar em pé o seu "itinerário". Inclui o detalhamento das reformas da CLT e da Previdência, o "aperfeiçoamento" de programas socias e de concessão de serviços públicos à iniciativa privada.

Parte da equipe de Temer torce também para que os deputados levem à bandeja o escalpo de Eduardo Cunha. A cassação do mandato do ex-todo-poderoso da Câmara está pronta para ser votada. Encontra-se sobre a mesa do novo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A infantaria de Cunha, hoje minoritária, tenta postergar a cassação. Mas Maia deixara pré-acertado com os líderes antes do início das férias que a lâmina reservada para Cunha desceria até 10 de agosto. Vai cumprir? Em relação a essa matéria, Temer se finge de morto.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.