Temer fará pronunciamento no 7 de Setembro
Michel Temer fará um pronunciamento à nação, em rede nacional de rádio e tevê, no feriado de 7 de Setembro, Dia da Pátria. Ele parte do pressuposto de que o Senado já terá aprovado o impeachment de Dilma Rousseff antes dessa data. Planeja dividir sua fala em três partes. Na primeira, fará uma espécie de inventário da "herança" deixada pela presidente deposta. Na segunda, prestará contas do que fez durante sua interinidade, iniciada em 12 de maio. Na parte final do discurso, informará que providências planeja adotar para sanear as contas públicas e soerguer a economia.
Todos esses detalhes foram informados pelo próprio Temer durante um jantar com a cúpula do PSDB, no Palácio do Jaburu. A conversa durou mais de três horas. Começou por volta de 20h40. E terminou no início da madrugada desta quinta-feira (18), pouco depois da meia-noite. Temer deu a entender que gostaria de levar seu pronunciamento ao ar um pouco antes. Entretanto, terá de viajar para a China nas pegadas da deposição de Dilma. E só voltará a Brasília em 6 de setembro.
Pelo lado do governo, recostaram os cotovelos sobre a mesa de jantar do Jaburu, além do anfitrião, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o assessor especial Moreira Franco. Pelo PSDB, participaram do repasto cinco senadores —Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira, Cássio Cunha Lima, José Anibal e Ricardo Ferraço— e o deputado Antonio Imbassahy. Dissipou-se durante a conversa o mal-estar provocado nos últimos dias pelas críticas do tucanato aos sinais trocados emitidos pelo Planalto.
As concessões salariais feitas pelo governo a corporações de servidores deixaram no PSDB uma impressão de que Temer poderia estar mais interessado na disputa presidencial de 2018 do que no ajuste fiscal. Um dos presentes, o senador José Aníbal (SP), chegara mesmo a enxergar pendores de presidenciável até no ministro Henrique Meirelles (Fazenda).
Temer disse aos tucanos ter consciência do seu papel histórico. A certa altura, declarou não estar preocupado com a popularidade. Fará, segundo disse, o que precisa ser feito. Repisou a tecla das reformas. Mencionou a emenda constitucional que fixa um teto para as despesas públicas, já enviada à Câmara. Citou também a reforma da Previdência e os pretendidos ajustes na legislação trabalhista.
Para surpresa geral, Temer informou que enviará ao Congresso a proposta que mexe nas aposentadorias antes das eleições municipais de outubro. Sabe que a votação deve deslizar para 2017. Mas quer iniciar desde logo o debate. A novidade surpreendeu os visitantes porque até auxiliares próximos de Temer vinham afirmando que a reforma da Previdência, polêmica e dura de roer, não chegaria ao Legislativo antes do fechamento das urnas municipais. Entre os defensores do adiamento está, por exemplo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), ex-ministro de Temer e um dos principais articuladores do governo no Senado.
O ministro Eliseu Padilha também ajudou a desfazer a impressão do tucanato de que o governo poderia dar as costas ao ajuste. Despejou sobre a mesa dados apavorantes. Disse, por exemplo, que, se nada for feito para deter o endividamento do setor público, 100% do orçamento federal será consumido em 2025 por três rubricas: pagamento da dívida, Previdência Social e folha salarial. "Não sobra dinheiro pra mais nada!", enfatizou Padilha.
O chefe da Casa Civil declarou que, durante a interinidade de Temer, o Planalto teve de fazer concessões e adotar um comportamento conciliatório. A partir da conversão do vice em presidente de fato, acrescentou Padilha, o governo terá condições de "contrariar alguns interesses".
O próprio Temer atribuiu a má impressão dos comensais às circunstâncias que permeiam sua interinidade. Repetiu que autorizou reajustes salariais para 14 categorias de servidores porque encontrou a negociação feita. Eram acertos escritos, não verbais. Avaliou que, se ignorasse o que fora negociado sob Dilma, as corporações parariam o país.
De resto, Temer minimizou os efeitos da mudança feita no projeto de renegociação das dívidas dos Estados com a União. Disse que a supressão do artigo que proibia os Estados de reajustar salários por dois anos permitiu a aprovação na Câmara daquilo que o governo considera essencial: o dispositivo que impõe um teto para o gasto público também nos Estados, limitando sua expansão à variação da inflação do ano anterior.
O tucanato deixou o encontro satisfeito com o que ouviu. Até a coreografia do jantar contribuiu para a pacificação dos humores. Antes de acomodar os convidados em torno da mesa, Temer conduziu-os ao terraço do Jaburu. O ambiente funcionou como uma espécie de câmara de descompressão. Durante cerca de uma hora Temer e seus convivas jogaram conversa fora. Os garçons do palácio serviram coxinhas de galinha, empadas e castanhas. Para beber, água, sucos e vinho.
Aliviados de todas as tensões, os estômagos foram, por assim dizer, apresentados ao bufê. Cada um fez o seu prato. O cardápio ornava com a crise: sopa de legumes, peixe, frango empanado, purê de batata, arroz e salada. Transferida para a mesa retangular do Jaburu, a conversa tornou-se ainda mais redonda. Embora 2018 estivesse gravado no pano de fundo do encontro, não se falou sobre sucessão presidencial senão lateralmente.
Presidente do PSDB, Aécio Neves declarou, a alturas tantas, que considera uma "bobagem" tratar de sucessão agora. Em 2018, disse ele, quem estiver habilitado participará da disputa. Hoje, acrescentou o senador mineiro, o que o brasileiro reclama é um projeto para o país. Alguém qualificou de "amargas" as medidas que Temer terá de adotar. Cássio Cunha Lima (PB) interveio: "Amargo é o desemprego."
Líder do PSDB no Senado, Cássio prosseguiu: O Brasil está diante de uma bifurcação. Se escolher a opção errada, o caminho será curto e levará rapidamente para o abismo. Se optar pelo caminho certo, ele será mais longo e árduo. Mas conduzirá a um porto seguro.
Logo, logo, quando Temer estiver caminhando sem as muletas da interinidade, vai-se saber: 1) se o governo terá mesmo disposição para "contrariar alguns interesses", como disse Eliseu Padilha no jantar; 2) se o PSDB, submetido às iniciativas de Temer, optará por remar junto ou saltar do barco. De concreto, por ora, apenas a impressão de que o jantar do Jaburu deu sobrevida ao relacionamento.
Depois do cafezinho, os tucanos ensaiaram uma despedida. Temer insistiu para que ficassem. Conversaram em pé por mais 15 minutos. Os tucanos gostaram da prosa. E vice-versa. Curiosamente, o nome de Dilma Rousseff, ainda alojada no vizinho Palácio da Alvorada, não foi mencionado no Jaburu.
Temer soou preocupado com os prazos fixados no roteiro do julgamento final do impeachment. Insinuou aos senadores que gostaria de virar a página até o dia 30 de agosto. Mas se absteve de citar o nome da presidente que, depois de tratá-lo como "vice decorativo", chama-o de "traidor" e "usurpador". Aparentemente a praga que Dilma rogou para si mesma já se cumpriu: a dama de Copas do PT é enxergada como carta "fora do baralho".
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