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Josias de Souza

Roberto Requião afirma que ‘fisiologia esclarecida ainda pode salvar Dilma'

Josias de Souza

24/08/2016 04h30

Folhapress

Num instante em que até os petistas duvidam da hipótese de Dilma Rousseff retornar à poltrona de presidente da República, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) resiste em jogar a toalha. Avalia que Dilma pode obter os 28 votos de que precisa para evitar o impeachment recorrendo à mesma arma utilizada por Michel Temer: o fisiologismo. "O senador Armando Monteiro, nosso ex-ministro da Indústria e Comércio, cunhou a expressão fisiologia esclarecida. Essa fisiologia esclarecida ainda pode salvar a Dilma", disse Requião em entrevista ao blog.

Requião recordou que 21 senadores votaram contra a conversão de Dilma em ré. E faz as costas: "A Dilma, então, precisa de mais sete senadores. E ela tem a República inteira para negociar com a fisiologia esclarecida." Noutro trecho da conversa, o senador acrescentou: "Ela tem o Brasil na mão e precisa de apenas sete votos. Precisa ser muito inábil para não conseguir." O julgamento final do processo de impeachment começa nesta quinta-feira. Num colégio de 81 senadores, são necessários 54 votos para confirmar a deposição de Dilma. O Planalto estima que terá entre 60 e 63 votos.

Com a franqueza que lhe é peculiar, Requião soou severo com o PT: "Dentro do PT tinha revolucionários que eram capazes de assaltar um banco para fazer caixa para a revolução. Perto disso, o sobrepreço numa obra pública não significava nada." Evocou uma frase do ex-presidente do Uruguai: "O Pepe Mujica diz que o principal inimigo do socialismo não é o capitalismo, mas o desejo cultural de acumulação."

Requião não poupou Lula, seu velho amigo: "Veja o Lula com aquele sítio [de Atibaia]. Tem cabimento isso? Ele tinha entrado naquela vigarice de palestras, que foi inventada pelo Fernando Henrique. O Bill Clinton também fazia a mesma coisa. O Lula, com essas palestras, não precisava ganhar de presente… Ele ia ganhar [o sítio] de presente. Eu sei o que é isso."

E quanto a Dilma? "Conheço a vida da Dilma. O irmão da Dilma cria tilápia num tanque, na periferia de Belo Horizonte. Eu acho que a Dilma facilitou o trabalho do Sérgio Moro, junto com o [José Eduardo] Cardozo. Eles deixaram o Moro e a Polícia Federal trabalhar. […] Achavam que caía o lado corrupto do partido e ficariam eles, os puros. Só esqueceram de uma coisa: foram beneficiários dessa corrupção para chegar à Presidência da República."

Requião fez uma revelação inusitada. Contou que, no segundo turno da campanha presidencial de 2014, Dilma estava animada com a atuação do juiz da Lava Jato. "Ela perguntou: 'Esse teu amigo, o Sérgio Moro, ele vai mesmo tocar essa investigação para a frente? E eu: Não tenha dúvida, o Moro é um obstinado. Ele não pára. A Dilma deu uma risada e disse: 'Requião, cai a República.' Ela estava contente com o Sérgio Moro." Vai abaixo a entrevista:

estrelinha

— Por que o país chegou ao impeachment? Chegamos a isso, em primeiro lugar, pela inabilidade de comunicação da Dilma. Nenhum governante deixaria de ter um terço de amigos no Senado, amigos pessoais até. Depois, por causa do Joaquim Levy, que foi o contrário dos compromissos que a Dilma tinha assumido na campanha. Hoje, sei que a Dilma pensava que, se tentasse aquele ajuste fiscal clássico por um ano, ela resolveria o problema e voltaria à sua agenda política. Ledo e vadio engano, como se demonstrou. Em terceiro lugar, chegamos ao impeachment porque atrás disso tudo há o interesse geopolítico dos Estados Unidos. O impeachment é o avanço norte-americano sobre as reservas minerais —minério, petróleo e água. Essa ação não se dá só no Brasil. Acontece também na Venezuela, na Argentina e na Colômbia.

— Acha mesmo que os Estados Unidos têm essa capacidade de articulação, a ponto de influir no processo de impeachment? Eles têm essa capacidade de articulação. E eles têm agentes. O [José] Serra é um agente desta proposta de liberalismo e globalização. Defende a tese do governo único, global. O Serra é um agente disso.

— Teve a oportunidade de dizer para Dilma que ela precisava melhorar a comunicação com os senadores? Eu não falo muito com a Dilma. Fiz a campanha dela, fiz o primeiro grande comício do segundo turno, em Curitiba. Ela ganhou a eleição. E eu nunca mais falei. Ela se isola. Eu também não podia engolir aquela política econômica do Joaquim Levy. Ela disse a mim agora que achava que mudaria depois de um ano. Achava que acertaria as coisas em um ano, seguraria o mercado e os bancos. Achava que depois tocaria a agenda social.

— Considera que o afastamento de Dilma é jogo jogado? Acho que ela pode não ser impichada. Estamos trabalhando para isso. Creio que teremos 28 senadores.

— Na última votação, Dilma teve 21 votos. O que mudou? Primeiro, nós tínhamos 22 votos. Daí, saiu o João Alberto [PMDB-MA]. Mas vieram outros. Prevalecerá uma visão ética desse processo. Todo mundo sabe que não há crime de responsabilidade. Isso é conversa mole. E há os erros do Temer.

— Que erros? Você acha que não tem ninguém que esteja estupefacto com a boçalidade do Serra no Ministério das Relações Exteriores. Houve a tentativa de compra do voto do Uruguai [para suspender a transferência da presidência temporária do Mercosul para a Venezuela]. Isso foi denunciado pelo chanceler uruguaio. Temer loteou a República. A Dilma, então, precisa de mais sete senadores. E ela tem a República inteira para negociar com a fisiologia esclarecida. O fisiológico esclarecido é o que quer um benefício para se manter na política, mas não quer mais ficar com o Temer e essa vergonha que está acontecendo. Então, o que pode desequilibrar é o favor pessoal, é o favor para a sua reeleição, para a garantia do seu mandato. A diculdade disso é que Dilma não consegue se comunicar.

— O que seria do país se Dilma voltasse? Não posso dizer que seria uma maravilha a volta da Dilma. Mas o país cresceria com isso em termos de debate político. O plebiscito faria o Brasil discutir essa proposta política do Temer, do Serra, do Meirelles, dos diretores banqueiros do Banco Central, dessa gente toda. Esse projeto que está aí não elege nem síndico no Brasil. Estão impondo isso. Não tem a menor viabilidade eleitoral. Isso é um golpe. Assim como achei um golpe a nomeação do Joaquim Levy para a Fazenda. Era um golpe contra os compromissos de campanha.

Por que fala da volta de Dilma sem entusiasmo? Não estou na turma do 'volta querida' nem na turma do 'fora Temer'. O país é o que me interessa.

— O que achou da proposta de Dilma sobre o plebiscito para antecipar a eleição presidencial? Isso foi uma condição para ela voltar. Ela se convenceu de que não tem condições de voltar se não aceitar isso.

— Quem impôs essa condição? O grupo que trabalha pela volta dela.

— A essa altura, a hipótese de volta de Dilma à Presidência não é ilusória? Não. Ela tem o Brasil na mão e precisa de apenas sete votos. Precisa ser muito inábil para não conseguir. Não temos um Congresso ideológico. Será que ninguém está vendo o fisiologismo do Temer, será que ninguém está vendo o que está ocorrendo com o país?

— Acha, então, que Dilma precisa recorrer às mesmas armas para retornar? O senador Armando Monteiro, nosso ex-ministro da Indústria e comércio, cunhou a expressão fisiologia esclarecida. Essa fisiologia esclarecida ainda pode salvar a Dilma. No passado tínhamos os déspotas esclarecidos. Agora, temos os fisiológicos esclarecidos. Pense no efeito estético de fazer essa cachorrada que está no governo voltar para a friagem. O que o Serra faz no Itamaraty é impensável.

— O senador Cristovam Buarque está na sua conta? Não está, mas já esteve. E tem mais: a primeira carta da Dilma ele escreveu junto comigo e o senador Acir Gurgacz. Como ele pode escrever a carta e depois dizer que não vota com a Dilma?

— A carta que Dilma divulgou foi escrita por seus apoiadores? Não, essa foi ela que fez.

— A outra versão era melhor? A outra tinha noções econômicas mais claras. É uma facilidade resolver o problema econômico do país.

— Fácil? O que deve ser feito? Tenho um texto na minha página sobre o que fazer. Chama-se Para Mudar o Brasil. Sou um admirador de um alemão que foi esquecido no mundo porque trabalhou com Hitler. Chamava-se Hjalmar Horace Greeley Schacht. Era um liberal. Quando entregaram a economia da Alemanha para ele, começou dizendo que a Alemanha só comprava de quem comprasse dela. Protecionismo absoluto. Ele enfrentou a banca. Acabou com a ciranda do financiamento da dívida pública e transformou em investimento. Simples. Isso já aconteceu em outros lugares do mundo. Não é uma impossibilidade.

— Quando ainda estava na Presidência, Dilma não o chamava para conversar? Eu nunca pedi um emprego para ela, nunca indiquei ninguém. Até por isso, aquele staff dela queria me ver longe. Preferiam a fisiologia rasteira do Congresso Nacional, trocando tudo por favores, emendas, comissões e empregos.

— O que levou o PT a adotar esse modelo que combina fisiologia e corrupção? Primeiro, eles precisavam de caixa para competir com os conservadores. Dentro do PT tinha revolucionários que eram capazes de assaltar um banco para fazer caixa para a revolução. Perto disso, o sobrepreço numa obra pública não significava nada. Tinha o pessoal dos fundos de pensão, que já metia a mão. A corrupção estava aí, ela é implícita à atividade humana. E eles foram se aprofundando nisso. Conseguiram se perder completamente. O Pepe Mujica [ex-presidente do Uruguai] diz que o principal inimigo do socialismo não é o capitalismo, mas o desejo cultural de acumulação. Primeiro o cara faz uma caixa para a campanha. O sujeito diz: 'Vamos fazer uma maioria no Congresso, derrotar a direita e implantar a justiça social no Brasil'. Daí ele pega aquele dinheiro e, psicologicamente, patrimonializa. Quando chega na eleição, diz: 'Esse aqui já é meu'. Vamos arranjar outro dinheiro para a campanha. Esse é o processo.

— Como analisa a participação de Lula em tudo isso? Veja o Lula com aquele sítio [de Atibaia]. Tem cabimento isso? Ele tinha entrado naquela vigarice de palestras, que foi inventada pelo Fernando Henrique. O Bill Clinton também fazia a mesma coisa. O Lula, com essas palestras, não precisava ganhar de presente… Ele ia ganhar [o sítio] de presente. Eu sei o que é isso.

— Como assim? Quando eu ganhei o governo do Paraná pela primeira vez [1991], chegou tanto presente na minha casa —coisa caríssima, de pessoa que eu não conhecia, de empresas, de empreiteiras— que eu chamei a Casa Militar, mandei botar num caminhão e devolver tudo. Não conheço esses caras! Por que estão me dando tantos presentes?

— Precisou de um caminhão? Um caminhão! Na época, eram eletro-eletrônicos, faxes, uma verdadeira loucura. Minha mulher e minha filha disseram: 'Tem gente que gosta de você, ficou satisfeita, mandou presentes.' Daí eu estabeleci uma regra: aceito presente, desde que sejam duas garrafas de vinho ou um livro. Livros ganhei muito poucos. Ganhei vinhos maravilhosos. Tenho até hoje uma adega fantástica em casa, remanescente disso.

— Ficou só nos vinhos? Vou de contar uma passagem, mas não vou dizer o nome da empreiteira. Ganhei do [Jaime] Lerner a eleição para a prefeitura. Se você olhar o Datafolha da época verá que terminei como o prefeito mais bem avaliado do Brasil. Daí me candidatei a governador. Já saí na frente nas pesquisas. E uma empreiteira famosa me procurou numa viagem que eu fiz a São Paulo. Isso aconteceu lá atrás, fui eleito para a prefeitura em 1985.

— A empreiteira era a Odebrecht? Não vou te dizer.

— Era a Odebrecht? Não era a Odebrecht.

— O que ocorreu? Essa empreiteira, que não vou dizer qual é, me disse: 'Requião, nós queremos te ajudar. Você fez uma administração importante em Curitiba, vai ser governador de Estado. Você precisa de um funding. Você vai ser presidente da República, sua carreira será brilhante. Mas sem dinheiro você não vai conseguir avançar. Você sabe que a política é feita assim, a realidade é essa. Vamos fazer assim: você assume o governo do Estado e cada obra que a nossa empresa pegar no governo do Estado você terá 3%. Você indica quem vai receber. Se quiser receber dentro do Brasil tudo bem. Se quiser receber fora, tudo bem. Indica um banco e uma conta. Nós resolvemos isso.

— Como reagiu? Eu mandei o cara à puta que o pariu na hora. E se você quiser saber qual é a empreiteira, é uma que jamais fez nenhuma obra enquanto eu fui governador por três vezes no Paraná.

— Essa empreiteira está envolvida na Lava Jato? Todas estão. Em 1985 já estavam propondo isso: eram 3%. Eles diziam: 'Não acresce muito ao valor das obras, te damos uma condição de fazer política, não é inflacionário. É uma coisa correta. É como se faz no mundo, Requião'. Isso já estava assim naquela época.

— Acha que Lula não conseguiu resistir à tentação? É o desejo de acumulação. De repente, um jatinho à disposição, uma casa e tal. Veja o que ocorre agora: o [pecuatista José Carlos] Bumlai disse: 'A Marisa pediu para fazer a reforma [no sítio de Atibaia].' Não vou condenar a Marisa. É uma moça simplória. Foi primeira-dama da República. É a tentação, é esse desejo cultural de acumulação. Agora, o Lula foi um baita presidente, com sua sensibilidade social. Mas tem a cozinha do apartamentinho. É claro que foram lá e ofereceram a cozinha do apartamento que o Lula ia comprar. Nem acho que seja um crime ele ter aceitado. É uma fraqueza.

— Acredita que Lula pode ser preso? O Lula não vai para a cadeia.

Dilma está isenta de responsabilidade nos casos de corrupção? Conheço a vida da Dilma. O irmão da Dilma cria tilápia num tanque, na periferia de Belo Horizonte. Eu acho que a Dilma facilitou o trabalho do Sérgio Moro, junto com o [José Eduardo] Cardozo. Eles deixaram o Moro e a Polícia Federal trabalhar.

Deveriam ter atrapalhado a investigação? Não. Quero dizer que eles achavam que acabariam com essas práticas no PT. Achavam que caía o lado corrupto do partido e ficariam eles, os puros. Só esqueceram de uma coisa: foram beneficiários dessa corrupção para chegar à Presidência da República. A Dilma achava, como boa guerrilheira, que se beneficiaria disso tudo e salvaria o país. Só que depois se perdeu na avaliação econômica.

— Do modo como fala, parece que Dilma torcia por Sérgio Moro, é isso? Eu fiz a retomada da campanha da Dilma no segundo turno, em 2014. Ela estava com a eleição perdida. Telefonou para mim: 'Requião, você faria um comício para mim aí no Paraná.' Ela insistiu. Resolvi fazer. Fiz o maior comício da história do Paraná. A Dilma chegou lá murcha, derrotada, não falava com ninguém. Estava chorosa. Ela me perguntou: vai ter alguém no comício. Eu disse: Ah, Dilma, umas duas, três mil pessoas eu garanto para você. Fomos para o centro de Curitiba, praça da prefeitura velha. Botamos 60 mil pessoas. Ela mudou. Ficou animada. Na volta ela perguntou: 'Esse teu amigo, o Sérgio Moro, ele vai mesmo tocar essa investigação para a frente? E eu: Não tenha dúvida, o Moro é um obstinado. Ele não pára. A Dilma deu uma risada e disse: 'Requião, cai a República.' Ela estava contente com o Sérgio Moro. E o Sérgio é um apreciador da Operação Mãos Limpas. Percebeu que não podia brigar com todo mundo ao mesmo tempo. Então, ele focou no PT. começou a se beneficiar disso. E foi apanhado pelo pecado preferido do diabo, que é a vaidade. Como é que o Sérgio Moro que eu conheci —duro, firme— foi dar uma palestra no instituto do João Dória, esse candidato do PSDB em São Paulo? Como o Sérgio foi tirar foto ao lado desse Dória, que é uma besta? Ninguém pode dizer que o Sérgio Moro é um qualquer. Ele pegou o Marcelo Odebrecht. Mas peca pela vaidade.

— Esse contexto de irregularidades teve influência no impeachment? Falei num discurso que havia 35 senadores implicados. Hoje, dizem que são 40. Mas não creio que isso teve influência. O que influenciou foi a aquela mobilização nas ruas, o ódio à Dilma, amplificado pela imprensa, a Globo batendo pesado, os interesses geopolíticos americanos, o Serra articulando dia e noite. Veja esse projeto do Tasso Jereissati, que proíbe agente político de ser diretor de estatal. O Tasso é correto, não é um canalha. Mas pensamos de forma oposta. E esse projeto é uma idiotice. Para que existe um partido político? Para propor políticas públicas e ocupar o poder. Os mesmos que acham que um dirigente político não pode ser diretor de estatal colocam no Banco Central os vice-presidentes dos principais bancos do Brasil. Aí pode!

— Como membro do PMDB, não se sente representado pelo governo Temer? Não. Eu sou o PMDB. Eles não são. Numa reunião da Fundação Ulysses Guimarães, eles tentaram vender esse programa 'Uma Ponte para o Futuro'. Eu fui lá, fiz um discurso contra. E 17 Estados aderiram à minha posição. Eles não colocaram o projeto em votação. Iam perder. Esse governo Temer não é o PMDB. É parte de um jogo da política corrompida.

— Faz alguma distinção entre o pedaço corrompido do PT e o PMDB que está no poder? Nenhuma distinção. É a mesma coisa. O problema é o sistema. E tem outra coisa mais séria. Depois da derrota do nazismo sugiu na Europa o Estado social. É o Estado que respeita a sustentabilidade, a natureza, o direito das mulheres, das minorias, reconhece direito dos trabalhadores, financia a educação, a saúde, pensa na aposentadoria. Esse Estado está sendo combatido agora em três frentes pelo dinheiro. Isso segue um tripé: Primeiro, a precarização do Executivo, transformado num chefe de polícia para reprimir manifestações populares. Segundo, a maximização do poder do Banco Central independente. Terceiro, a precarização do Parlamento, com o financiamento de campanha por bancos e grandes empresas. Os parlamentares não são mais do PT, do PMDB. São mandaletes, prepostos dos seus financiadores. Isso tudo resulta em coisas como a precarização do trabalho, o fim das garantias. Quando falam em Banco Central independente, os idiotas pensam em BC independente dos seus países. Mas não é. O que tirou a Inglaterra da União Europeia? Claro que há uma boa dose de xenofobia, de ódio ao estrangeiro. Mas, basicamente, foi o domínio absoluto da Alemanha sobre a economia e a regulamentação do capital, que marginalizou o capital inglês.

Se passar o impeachment Dilma ainda tem futuro político? Não. Acabou.

O PT vai virar o quê? Pó. O baque foi muito grande. Isso não significa que seja definitivo. O PSDB já virou pó e está se exibindo de novo. Lembra que o PT só cresceu porque o governo Fernando Henrique foi um fracasso absoluto do ponto de vista da população. Quebrou o país, diminuiu o emprego, vendeu empresas, não pagou dívida. Agora eles querem completer o serviço.

Não atribui ao PSDB nem o mérito da estabilização da moeda? Por esse raciocínio, seria preciso atribuir ao Lula o mérito da recuperação brasileira e não ao boom das commodities. Lula fez distribuição de riqueza, aumentou o salário mínimo. Mas não cuidou da macroeconomia. Não sabe nem o que é isso. Basta lembrar que ele insistia para a Dilma colocar o Henrique Meirelles de volta.

Considera o Temer e seu grupo dissidentes no PMDB? Esse grupo não representa o partido. E o Temer é o melhor de todos eles.

Votará contra as propostas de um eventual governo do PMDB? Claro que vou votar contra.

Tem interlocução com o Temer? Depois que ele assumiu, nunca mais falei com ele. Eu apoiei a eleição do Temer [para a presidência do PMDB]. O Paraná foi o primeiro Estado. Achava que ele era menos ruim que o Romero Jucá no comando do partido.

O que acha da Operação Lava Jato? Sérgio Moro é meu amigo. Trabalhamos juntos quando fui governador do Estado. Ele como juiz federal, eu como governador. Combatemos o narcotráfico, a corrupção. Ele é um paladino, formado na escola americana. Acha que vai moralizar tudo. Mas não tem a menor noção de economia global. Veja a recessao brasileira: 2% é por conta da Lava Jato.

— Acha que a Lava Jato deveria ser evitada? Não. Mas se o governo não estivesse envolvido nisso, ele teria feito uma intervenção nas empresas. Botava um general preparado no controle, manteria essas empresas vivas e o emprego estável. Não tiveram coragem de intervir porque se envolveram.

Intervir significaria estatizar as empreiteiras? Exatamente. Eu interviria imediatamente. Tomava conta das empresas e punha um general lá administrando.

— O juiz Sérgio Moro realiza o papel que lhe cabe, não? Sim, ele faz o papel dele, sem dúvida. Mas não tem noção dos prejuízos. E está perdendo a linha. Esse negócio de querer investigar os presentinhos que Lula ganhou é brincadeira.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.