Posse no STF mostra que a Justiça mora longe
.
A posse de Cármen Lúcia na presidência do Supremo Tribunal Federal foi marcada por um paradoxo. A cerimônia teve como pano de fundo a corrupção, mencionada direta ou indiretamente em todos os discursos. E a plateia estava apinhada de convidados de honra cuja honradez está, por assim dizer, sub judice em inquéritos que correm no próprio Supremo.
Ao discursar, Cármen Lúcia inovou. Rendeu homenagens às autoridades presentes, como de praxe. Entretando, antes de se dirigir ao presidente Michel Temer e a um interminável rol de figurões, a ministra cumprimentou o grande ausente do plenário: "o cidadão brasileiro", autoridade máxima da República. Para ela, quem merece a primeira deferência é "Sua Excelência, o povo".
Na posse de uma personagem como Cármen Lúcia, foi reconfortante perceber que o Supremo não está alheio ao papel central que exerce no combate à corrupção. Hoje, não se fala em outra coisa no país. A roubalheira é tema de todas as rodinhas de conversa. Impossível mudar de assunto. Pode-se, no máximo, mudar de corrupto.
Autora do discurso mais ameno da tarde, Cármen Lúcia disse que o Supremo "não deixará ao desalento o direito e a ética." Dono da fala mais enfática, o decano Celso de Mello atacou as "organizações criminosas" que infestam o Estado, condenou a "delinquência governamental", execrou os "marginais da República".
"A corrupção é o cupim da República", disse Celso de Mello. "República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam." Falando em nome de toda a Corte, o ministro evocou Ulysses Guimarães: "Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública", disse.
Na sua vez de discursar, o procurador-geral da República Rodrigo Janot fez menção explícita à Lava Jato. Tinha do seu lado o presidente do Senado, denunciado ou réu em nove inquéritos que correm no Supremo, oito dos quais relacionados à Lava Jato. Defronte do chefe do Ministério Público, na primeira fila de cadeiras, o ex-presidente Lula, indiciado pela Polícia Federal no Paraná e mandado ao banco dos réus pela Justiça Federal de Brasília.
Espalhados pelo plenário do STF, havia outros protagonistas de processos e personagens de delações. Entre eles o tucano Aécio Neves, o ex-ministro Edison Lobão e o ex-tudo José Sarney. A presença de tantos investigados potencializou a sensação de que, no Brasil, o crime é perto. Mas a Justiça continua morando muito longe.
No comando do Supremo, o desafio de Cármen Lúcia é grande, muito grande, enorme. Cabe à Corte processar e julgar os suspeitos que dispõem de mandatos eletivos. Por sorte, a ministra assume num instante em que não há vestígio de aumento da taxa de corrupção no Brasil. Continua nos mesmos 100%.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.