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Josias de Souza

‘Vou fazer turnê’ para lançar livro, declara Cunha

Josias de Souza

26/09/2016 06h27

Sem mandato, Eduardo Cunha corre contra o relógio para preparar seu livro sobre o impeachment, a ser lançado no final do ano. "Vou lançar em Brasília, disse ele, em entrevista ao Valor. "Depois, todas as capitais e grandes cidades. Vou fazer turnê." Ainda que Dilma Rousseff resolva contar a mesma história, Cunha avalia que seu roteiro será mais completo. "A Dilma pode até fazer um livro. Mas só pode contar a ótica dela. Eu posso contar a ótica de quem fez o impeachment."

Cunha ainda não sabe quem editará a versão impressa do livro. Mas já escolheu a editora da versão eletrônica: "O digital devo fazer com a Amazon." Ele reiterou que reproduzirá todas as conversas que manteve na fase de articulação do impeachment. Esteve inclusive com Lula. "As conversas que tive com ele vou relatar dia, hora e local."

Mencionará proposta de acerto que diz ter recebido do chefe da Casa Civil de Dilma. "Houve proposta do PT pelo Jaques Wagner. Seria uma coisa absolutamente inócua. Qualquer acordo no conselho [de Ética da Câmara] vai depois para o plenário. Vencer ou perder no conselho não muda nada."

Perguntou-se ao ex-deputado: Os políticos vão ficar melhores, menos fariseus, menos covardes nesse livro? E Cunha: "Não sei. Vai ser engraçado. Vou me divertir muito." O personagem atribui a cassação do seu mandato não à roubalheira na Petrobras, mas a uma suposta vingança por seu protagonismo na deposição de Dilma.

Cunha põe em dúvida o título de político mais odiado do país. "Em São Paulo não posso andar, sou celebridade", diz, a certa altura. "Não sei se eu sou o mais odiado", declara noutro ponto da conversa. "Eu sofri uma exposição negativa de mídia sem precedentes. Muito maior que a Dilma sofreu. Não dá nem pra comparar. Me transformaram, de repente, no chefe do petrolão. Agora entrou o Lula."

Prosseguiu: "Eu estou andando na rua com muita naturalidade. Tem mais grupamentos positivos do que contrários. Tem gente contrária? Tem. Principalmente da semana passada pra cá, depois da cassação, ficou mais acirrado. Dos dois lados."

Cunha contou um episódio que sucedeu no aeroporto: "Na quinta-feira passada, quando eu embarcava para o Rio, veio grupo com três ou quatro petistas atrás de mim no aeroporto, me ofendendo. Até que chegou num ponto, eu cheguei na praça de alimentação, e fui cercado por uns 50 aplaudindo e gritando para os para os caras 'Fora, PT', 'Fora, Dilma', 'Obrigado pelo impeachment'."

Acha que se elegeria, se pudesse concorrer em 2018? "Se você perguntar se posso disputar uma eleição de governador, majoritária, talvez meu nível de rejeição, causado pelo desgaste, não permita. Mas para eleição proporcional vou ter muito mais voto do que eu tive antes."

Vou ter mais voto?!? Como assim, cara pálida?!? Por um instante, Cunha parece ter esquecido que a cassação tornou-o inelegível por oito anos. De resto, o ex-deputado ainda não se deu conta de que perdeu a controle sobre o próprio futuro. Fala em realizar no final do ano uma "turnê" de lançamento do seu livro sem levar em conta a hipótese de estar atrás das grades.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.