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Josias de Souza

João Doria prevalece no último debate por WO

Josias de Souza

30/09/2016 04h14

O neotucano João Doria prevaleceu por WO no último round da briga que definirá os candidatos que disputarão a poltrona de prefeito de São Paulo no segundo turno. Seus principais contendores preferiram não confrontá-lo no debate da TV Globo. Fernando Haddad, que teve uma leve recuperação nas sondagens eleitorais, e Marta Suplicy, que amargou um declínio, engalfinharam-se pela primazia de retirar do segundo turno Celso Russomano, que executou uma coreografia defensiva, contra-atacando.

Como no caso do sapo de Guimarães Rosa, Haddad, Marta e Russomano não pularam uns sobre os outros por boniteza, mas por precisão. Tinham um olho no debate e outro num par de indicadores:

1) de acordo com o Datafolha, 34% do eleitorado paulistano chega à reta final da disputa flertando com a ideia de trocar de candidato. Essa turma pode acionar o gatilho do voto últil —aquele que leva o eleitor a trair o candidato de sua predileção apenas pelo interesse de empurrar para dentro do segundo turno um nome que reúna mais chances de evitar o triunfo de um candidato visto como mau maior.

2) segundo o Ibope, 39% dos eleitores da capital paulista informam, já na beirada das urnas, que desejam votar em branco ou anular o voto. Escondem-se atrás desse índice os eleitores que, de saco cheio com a política, se desplugaram da tomada. O desafio dos candidatos é encontrar uma fagulha capaz e energizá-los.

Num cenário assim, tão volátil, é difícil antever, por ora, quem disputará o segundo turno com Doria. Seja quem for, terá de rebolar para desbancá-lo. Auxiliado pela turma do marketing, o afilhado de Geraldo Alckmin parece ter construído o discurso ideal para o Brasil da Lava Jato.

Doria vende-se aos eleitores como um empresário, um não-político, um gestor moderno. A bordo de uma coligação partidária que trocou tempo de propaganda eletrônica por posições na máquna estatal paulista, Doria se esforça para não parecer o que é, porque em política o outro pode não ser o que parece, ou pior: ser e parecer.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.