Faltou despertador à tática política do governo
Há cinco dias, o ministro Geddel Vieira Lima, coordenador político do Planalto, tirou um sarro da rapaziada que perdeu o horário de votação de Michel Temer, em São Paulo. "Não ficou feio o presidente ir mais cedo", divertiu-se Geddel. "Os manifestates é que dormiram demais." Nesta sexta-feira, o feitiço do sono virou-se contra os feiticeiros.
Na noite de quinta, Geddel foi ao encontro do tavesseiro certo de que, na manhã seguinte, a Câmara realizaria a primeira das duas sessões de debate que antecedem a votação da emenda constitucional que congela os gastos federais por 20 anos. A dúvida é a antessala da insônia. Mas Geddel dispunha da certeza, que vale por um barbitúrico.
Por mal dos pecados, deu tudo errado. Para cumprir a tabela dos prazos, o governo precisaria colocar em plenário nesta sexta-feira 51 deputados. O Planalto mobilizara sete dezenas de aliados. Ainda assim, a sessão caiu por falta de quórum. A exemplo da turma do movimento 'Fora, Temer', a infantaria de Geddel dormiu demais.
Agora, se quiser manter o plano de votar até terça-feira o primeiro turno da emenda do teto de gastos, o governo terá de aprovar um requerimento suprimindo do processo de votação as sessões de debate. Não é impossível, sobretudo se a tropa governista armar-se de despertadores. Mas introduziu-se desnecessariamente na cena um ruído que servirá de matéria-prima para que a oposição mantenha a encrenca na Justiça.
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