Duelo entre Alckmin e Aécio já beira a autofagia
A situação poderia ser mais simples para o PSDB, pois a legenda cavalga o esfacelamento do PT nas eleições municipais, Dilma cuida dos netos em Porto Alegre e Lula está mais próximo da carceragem de Curitiba do que das urnas de 2018. No entanto, o tucanato parece ter feito uma opção preferencial pelo desastre. Aécio Neves e Geraldo Alckmin duelam sem método. Ainda não se deram conta de que as regras são sempre menos perigosas que a improvisação. Sem elas, os tucanos bicam a própria carne.
Aécio terá de deixar a presidência do PSDB no início de 2017. Perdeu a condição de candidato natural ao Planalto. Terá de tourear a Lava Jato e Geraldo Alckmin, que também ambiciona a cadeira que Michel Temer esquenta. O estatuto do PSDB prevê a realização de eleições prévias. Todos defendem as prévias. Mas elas jamais foram regulamentadas. É contra esse pano de fundo que Aécio e Alckmin trocam bicadas, observados à distância por José Serra, candidato a estorvo.
Em 2006, os tucanos escreveram uma página constrangedora de sua história. As plumas mais vistosas do ninho, FHC entre elas, deixaram-se fotografar num restaurante chique de São Paulo em meio a taças de vinho. Passaram a impressão de que escolhiam um adversário para Lula, que disputaria a reeleição. Desde então, as definições de candidaturas no PSDB ganharam a fama de conchavos da elite partidária.
Em 2008, o senador cearense Tasso Jereissati tentou alterar a sina. Ele presidia o PSDB federal naquela época. E levou à mesa a proposta de regulamentação das prévias partidárias para a escolha de candidatos do partido a cargos executivos. Oferecia duas alternativas de modelo. Numa, as prévias tucanas seriam abertas a todos os eleitores, como ocorre nos Estados Unidos. Noutra, seriam feitas apenas entre os filiados da legenda. Houve muita espuma e nenhuma definição.
Todos os tucanos que sucederam Tasso no comando do partido falaram em prévias, inclusive Aécio. Nenhum logrou passar da fase da conversa fiada. Se levasse a questão a sério, o PSDB teria deflagrado o processo das prévias no início desde ano eleitoral de 2016, com uma campanha de filiação paritdária.
Os tucanos lançariam um convite à plateia. Algo assim: filie-se ao PSDB e ajude o partido a escolher o candidato à Presidência. Ao longo de 2017, a legenda promoveria um intenso debate nacional. Quem tivesse bala na agulha subiria no caixote. Com alguma sorte, 16 anos depois de ter sido arrancado do Planalto pelo eleitor, o tucanato chegaria ao início de 2018 dispondo de algo parecido com um receituário. E as prévias abençoariam uma candidatura presidencial.
Distantes desse enredo, Alckmin e Aécio se atracam nos porões pelo controle do PSDB. Vitaminado pela eleição do seu poste João Doria na cidade de São Paulo, Alckmin pega em lanças para acomodar na presidência da legenda o deputado paulista Silvio Torres, do seu grupo. Com a engrenagem partidária nas mãos, Aécio ensaia empinar o nome de um aliado, o senador paraibano Cássio Cunha Lima.
Ao sentir o cheiro de queimado, Michel Temer apressou-se em convidar o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso para um almoço no Alvorada. Temer não se importa que os tucanos exercitem sua vocação para o suicídio, desde que votem unidos no Congresso a favor das reformas. O sucessor-tampão de Dilma tem em FHC um aliado.
O ex-presidente tucano refere-se ao governo Temer como uma "pinguela" pela qual transitarão as reformas que entregarão um país menos desorganizado ao próximo presidente. Convertido pela conjuntura em força auxiliar do PMDB no Congresso, o PSDB arrisca-se com sua divisão interna a transformar o caminho para 2018 numa rua ladrilhada com pedrinhas de brilhante para alguém como o ministro Henrique Meirelles passar. Ou coisa bem pior.
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