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Josias de Souza

Gilmar autoriza Procuradoria a investigar Aécio

Josias de Souza

18/10/2016 02h38

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a Procuradoria-Geral da República a dar prosseguimento a uma investigação contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Apura-se a suspeita de adulteração de dados do acervo da CPI dos Correios, que funcionou entre 2005 e 2006. Apura-se também denúncia de que Aécio articulou o atraso no fornecimento de informações requisitadas pela CPI ao Banco Rural. O objetivo seria ganhar tempo para que o banco pudesse maquiar o papelório, excluindo informações que comprometeriam Aécio.

A encrenca nasceu de depoimentos prestados pelo senador cassado Delcídio Amaral, que presidiu a CPI dos Correios. Delator da Lava Jato, o ex-senador contou que Aécio incomou-se com a requisição de documentos ao Banco Rural. Afirmou que o ex-colega "enviou emissários para que o prazo de entrega das quebras de sigilo fossem delongados, com a justificativa, entre aspas, de que não haveria tempo hábil para preparar essas respostas."

Um dos emissários citados por Delcídio foi o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), na época um deputado federal que representava o PSDB na CPI. O delator disse ter descoberto mais tarde as razões do incômodo do atual presidente do PSDB. "Os dados atingiriam em cheio as pessoas de Aécio Neves e Clésio Andrade, governador e vice-governador de Minas Gerais", disse Delcídio em sua delação.

As acusações do ex-senador petista resultaram num inquérito contra Aécio. O processo foi aberto no início de maio. No mesmo dia, 3 de maio, servidores do Senado retiraram documentos da sala que armazena os arquivos da CPI dos Correios. De um total de cerca de mil caixas, foram transportadas para fora desse ambiente 46 unidades. A pedido da Procuradoria, Gilmar Mendes autorizou os investigadores a analisarem os vídeos do circuito interno do Senado, que registram o trânsito dos papeis.

Em nota oficial, o PSDB disse aprovar o despacho de Gilmar Mendes. Avalia que a peça "contribui para garantir transparência ao processo." O texto classifica as acusações de Delcídio de "absurdas e totalmente descabidas". Reitera o apoio do tucanato às investigações. Quanto à retirada de documentos da CPI dos Correios, anota que "seguiu estritamente a legislação vigente, que permite a qualquer cidadão pedir ao Congresso pesquisa de documentos, o que foi feito pelo setor competente, como atesta documento oficial do Senado".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.