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Josias de Souza

Freixo e Crivella deram show de mediocridade

Josias de Souza

19/10/2016 05h00

No segundo debate entre os Marcelos que disputam a prefeitura do Rio, levou a melhor o pedaço do eleitorado que não assistiu ao debate, privilegiando o travesseiro. Guiando-se por autocritérios, Freixo pode declarar-se vencedor. Crivella também pode se proclamar vitorioso. Mas a grande dúvida é a seguinte: quem vence um debate medíocre é melhor ou pior do quem perde?

Em desvantagem nas pesquisas, Freixo foi à jugular do adversário já no primeiro bloco (assista acima). E o pastor Crivella, abstendo-se de oferecer a outra face, submeteu o rival aos rigores da Lei de Talião —olho por olho, dente por dente. Nos momentos em que pareciam mais fora de si, os contendores revelaram o pouco que têm por dentro.

Se agressão rendesse votos, qualquer lutador de vale-tudo seria um candidato imbatível. Na sucessão presidencial de 2006, Geraldo Alckmin armou-se de dois escândalos —o mensalão e o caso dos aloprados— e surrou Lula nos debates. Tudo o que conseguiu foi vitimá-lo. No segundo turno, o tucano amealhou menos votos do que tivera no primeiro.

Num bloco em que os eleitores tiveram voz, as perguntas ganharam nexo. As respostas, nem tanto. Escolas, saúde, tarifas de transportes, desemprego, segurança pública… Os donos dos votos esfregam seus velhos dramas na face dos candidatos. Crivella e Freixo desperdiçaram o momento. Disseram coisas definitivas. Mas não definiram muito bem as coisas.

Os contendores derraparam também nos momentos em que falaram de dinheiro. Em tempos de teto de gastos federais, Crivella insinuou que sua intimidade com Brasília renderia recursos para o Rio. Hã, hã. Espremido, Freixo não conseguiu dizer de onde sairá a verba para bancar os projetos que empina na campanha. Soou como se não soubesse que até a ideologia precisa caber num Orçamento.

Quebrado, o Estado do Rio de Janeiro passa a impressão de que chegou ao caos. Na disputa pela poltrona de prefeito da capital do descalabro fiscal, Freixo e Crivella revelaram-se decididos a demonstrar que a plateia subestima a posteridade da 'Cidade Maravilhosa'.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.