Lula cutuca país com o pé e reclama da mordida
Depois de fugir das urnas de São Bernardo do Campo para não ter de optar entre um candidato do PSDB e outro do PPS, Lula reapareceu nesta terça-feira. Discursou para alunos da Universidade Federal de São Carlos. A certa altura, declarou: "Cada vez mais, em vez de negar a política, a gente tem que fazer política. Porque a desgraça de quem não gosta de política é que é governado por quem gosta. E quem gosta é sempre a minoria, é sempre a elite."
A manifestação de Lula é uma reação ao azedume que o eleitorado despejou sobre as urnas municipais de 2016. A acidez dos brasileiros dissolveu o PT. O partido elegera 638 prefeituras em 2012. Agora, além de vencer apenas em 254 municípios, o PT foi expurgado de vitrines como São Paulo. Lula queixa-se sobretudo do triunfo de candidatos que se apresentaram como não-políticos —João Doria, por exemplo— e do grande número de abstenções e votos nulos.
O que o morubixaba do PT ainda não enxergou é que, ao "negar a política", o brasileiro está fazendo política em estado bruto. Foi a forma que um pedaço da sociedade encontrou para informar que está de saco cheio de ser "governado por quem gosta de política" do jeito que Lula e o PT a praticaram nos últimos 13 anos. Eleito para fazer diferente, o petismo fez muito pior. Produziu ruína econômica e corrupção em escala industrial.
Lula ainda imagina ser protagonista de um épico. Mas, na verdade, tornou-se personagem de um filme de classe B. Nele, Luís Inácio, no papel de Lula, é um homem convencido de que sua missão divina o torna credor de certos privilégios. Nesse enredo, empreiteiros são escudeiros providenciais. Com as algibeiras recheadas com verbas do petrolão e do BNDES, livram Lula de cuidados banais, como o pagamento da conta das reformas do sítio e do tríplex, a montagem das cozinhas planejadas, a instalação do elevador privativo, o guarda-volumes para as tralhas…
Ao discursar para os estudantes, nesta terça, Lula chegou a ensaiar uma caída em si. "Estamos numa crise agora? Estamos. Temos responsabilidades? Temos. Fizemos erros? Fizemos." Mais um pouco e o morubixaba do PT admitiria que a política que praticou nos últimos anos é a causa do desalento nacional. Criticar os efeitos sem expiar as culpas apenas aumenta a raiva da plateia.
Ao converter suas coalizões em organizações crimimosas, ao transformar o PT em máquina coletora de verbas, ao eleger e reeleger uma supergestora de fancaria, ao minimizar um flagelo econômico que colocou no olho da rua 12 milhões de brasileiros, ao fazer tudo isso, Lula cutucou o país com o pé. Agora, não pode se queixar da mordida, uma boa reação política contra as ofensas da má política.
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