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Josias de Souza

Após comer o queijo, Cunha distribui os buracos

Josias de Souza

02/11/2016 15h27

Portador de segredos insondáveis da República, Eduardo Cunha relacionou 22 testemunhas de defesa no processo em que é acusado de receber propina de US$ 1,5 milhão para azeitar negócios num campo de óleo da Petrobras no Benin, na África. Hospedado no PF's Inn de Curitiba há duas semanas, Cunha olhou para o alto ao elaborar sua lista. Incluiu nela os nomes de Lula e Michel Temer, dois personagens que conhecem por dentro a usina de fisiologismo que descambou para a corrupção.

No momento, Cunha identifica-se com a fauna do universo das conspirações. Ora considera-se um bode expiatório ora se vê como um boi de piranha —aquele bicho que é jogado no rio para ser comido, enquanto o resto da manada escapa. A escolha de testemunhas como Lula e Temer não é aleatória. Cunha espera que ambos ajudem seus advogados a protegê-lo, convertendo-o aos olhos do juiz Sérgio Moro numa espécie de bode exultório.

Cunha é um potencial delator. Se for socorrido pelas testemunhas, retribuirá com o silêncio. Do contrário, pode endurecer o dedo. É um comportamento típico de outro ser dos porões do poder. Depois de comer o queijo, Cunha avisa aos que usufruíram de sua companhia no verão passado que está pronto para distribuir os buracos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.