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Josias de Souza

PT articula atos pró-Lula e esquece seus presos

Josias de Souza

04/11/2016 05h38

Num instante em que os investigadores da Lava Jato avaliam que Lula precisa de interrogatórios, o PT e seus aliados providenciam mais solidariedade. Lançarão na quinta-feira (10) da semana que vem uma campanha "em defesa da democracia, do estado de direito e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva."

O movimento ignora companheiros que eram festejados em eventos partidários como "guerreiros do povo brasileiro" e hoje estão presos em Curitiba. Entre eles os condenados José Dirceu e João Vaccari. Ou Antonio Palocci, enviado pelo juiz Sérgio Moro ao banco dos réus nesta quinta-feira.

Para Lula, um manifesto com passagens assim: "Na democracia, o Brasil conheceu um período de estabilidade institucional e de avanços econômicos e sociais, tornando-se um país melhor e menos desigual. Mas essa grande conquista coletiva encontra-se ameaçada por sucessivos ataques aos direitos e garantias, sob pretexto de combater a corrupção." Para os demais, nenhuma palavra.

A chance de os rapapés dirigidos a Lula surtirem algum efeito jurídico é nula. A hipótese de o esquecimento dos demais encrencados produzir mágoas é total. O petismo ainda não se deu conta mas o histórico de delações da Lava Jato revela que o pior tipo de solidão é a companhia dos advogados na carceragem de Curitiba.

Pós-graduado em prisão, Dirceu ainda desfruta da companhia do próprio ego. Mas Vaccari emite sinais de depressão. E Palocci é visto pelos correligionários como uma alma frágil. Receia-se que não resista a uma rotina em que o sujeito vive roendo a própria solidão como uma rapadura sem doce.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.