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Josias de Souza

Prisão de Cunha e Garotinho mostra a evangélicos que Deus não é 'full time'

Josias de Souza

20/11/2016 04h56

No Rio de Janeiro, os três políticos mais identificados com o eleitorado evangélico são Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da igreja Universal; Anthony Garotinho (PR), fiel da igreja Presbiteriana; e Eduardo Cunha (PMDB), adepto da igreja Sara Nossa Terra. Crivella acaba de se eleger prefeito do Rio. Garotinho e Cunha estão presos. Essa conjuntura demonstra que Deus existe. Mas não é 'full time'.

Denominações religiosas que se opõem à Universal, igreja de Edir Macedo, tio de Crivella, se articulam para produzir novos candidatos. Avalia-se que Garotinho está condenado à decadência política mesmo que se livre da acusação de chefiar um esquema de compra de votos na cidade de Campos dos Goytacazes. Quanto a Cunha, teme-se que a Lava Jato o torne um ficha-suja, afastando-o das urnas.

A despeito de seus alentados prontuários, Garotinho e Cunha se autoproclamam evangélicos desde a década de 1990. Em tempos de campanha, são auxiliados por uma legião de pastores, que fazem as vezes de cabos-eleitorais. Ambos utilizaram programas de rádio como palanques eletrônicos. Mais arrojado, Garotinho notabilizou-se por distribuir utensílios domésticos a donas de casa.

Ex-aliados, Garotinho e Cunha tornaram-se inimigos políticos. Um se refere ao outro como "ladrão". Embora suas fichas indiquem que os dois talvez estejam certos, os líderes evangélicos que buscam novos talentos políticos não parecem preocupados com a debilidade ética, mas com a incapacidade momentânea da dupla de disputar espaço com Crivella e a sua Universal. Os supostos representantes de Deus fazem política com tal descompromisso moral que às vezes passam a impressão de que Ele não merece existir.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.