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Josias de Souza

Debate do Senado foi presidido pela hipocrisia

Josias de Souza

01/12/2016 16h45


Realizou-se nesta quinta-feira mais uma sessão de debate em torno do projeto sobre abuso de autoridade. O evento foi presidido pela hipocrisia. No comando dos trabalhos, Renan Calheiros, protagonista de 12 processos judiciais. No rol de debatedores, Sérgio Moro, juiz da Lava Jato. Trataram-se por "excelentíssimo". Acontece que o excelentíssimo, na visão de um e de outro, não é excelentíssimo. Bem ao contrário. Pode ser um biltre.

"A Lava Jato é sagrada", disse Renan a certa altura. Difícil para Moro ouvir o anfitrião dizer uma frase como essa sem reprimir um sorriso interior e uma voz que soa nos fundões da consciência: "Farsante".

Moro sugeriu o adiamento do debate: "Uma nova lei poderia ser interpretada nesse momento como efeito prático de tolher ações" de juízes e procuradores. "…Talvez não seja o melhor momento, e o Senado pode passar uma mensagem errada. O que se assiste é uma sociedade ansiosa não apenas com casos da Lava Jato."


Lançado no caldeirão da Lava Jato, Renan enxerga em Moro a personificação do abuso de autoridade, um mau exemplo para magistrados que merecem um epíteto do Evangelho: "Raça de víboras."

Terminado o debate do Senado, as atenções de Brasília se voltaram para o plenário do Supremo Tribunal Federal. Ali, foi a julgamento a denúncia em que a Procuradoria-Geral da República acusa Renan de receber propina de uma empreiteira para pagar pensão de uma filha.

Relator do caso, o ministro Edson Fachin votou pelo recebimento parcial da denúncia. Se for acompanhado pela maioria dos seus pares, como parece provável, Renan será convertido em réu. E a tramitação do projeto sobre abuso de autoridade passará a ser presidida por uma autoridade que abusa da paciência alheia.

Aqui e aqui, mais informações sobre o debate realizado no Senado.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.