Asfalto intima Temer a optar: ética ou aliados?
O brasileiro voltou às ruas neste domingo. Foi a primeira grande manifestação desde o impeachment de Dilma Rousseff. O asfalto roncou a favor da Lava Jato e contra os políticos que cruzam o caminho da investigação com o propósito de "estancar a sangria". O principal alvo foi Renan Calheiros. De quebra, alvejou-se Rodrigo Maia. Mais importante: concentrados no Congresso, os descontentes sinalizaram que podem cruzar a Praça dos Três Poderes a qualquer momento para encarar o Palácio do Planalto. Michel Temer foi, por assim dizer, informado do seguinte: se quiser fazer os brasileiros de bobos, não encontrará material.
O governo de Michel Temer equilibra-se em cima de um paradoxo. Promote consertar a economia. Mas busca a responsabilidade fiscal com o velho método de sempre: o fisiologi$mo. Preservou e até ampliou os espaços que a clientela da Lava Jato ocupava sob Lula e Dilma. Temer mantém a cabeça nas reformas e os pés na lama. Para ele, o inaceitável é apenas o outro nome de pragmatismo. Seus operadores alegam que, se o presidente não jogar esse jogo, não governa. E o asfalto responde: 1) o Brasil é outro. 2) A Lava Jato, que já dissolveu a presidência de Dilma e a credibilidade de Lula, bem pode carbonizar Temer.
Há uma semana, Temer dividiu a bancada com Renan e Maia numa entrevista oportunista. Duas semanas depois de dizer que não se meteria na decisão do Congresso sobre a anistia do crime de caixa dois, o presidente informou que vetaria a esperteza caso o Congresso se atrevesse a aprová-la. Dias depois, descobriu-se que há males que vêm para pior. De madrugada, a Câmara desossou o pacote anticorrupção e injetou nele a vingança travestida de controle do "abuso de poder" de juízes e procuradores. Na sequência, Renan tentou empurrar goela abaixo do plenário do Senado o pacote que os deputados desfiguraram.
É preciso "ouvir a voz das ruas", afirmou Temer no domingo passado. E agora: "A força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais uma vez, neste domingo, nas manifestações ocorridas em diversas cidades do país", anotou o Planalto em nota oficial. "Milhares de cidadãos expressaram suas ideias de forma pacífica e ordeira. Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que fortalece ainda mais nossas instituições. É preciso que os Poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira."
O teor da nota revela que a ficha de Temer ainda não caiu. Hoje, os principais aliados do presidente estão na cadeia (Cunha), no banco dos réus (Renan), nos inquéritos do STF (Jucá), ou nas delações da Odebrecht (Padilha e Moreira). As ruas intimam o presidente a fazer uma opção: a ética ou os aliados? Diante de um cenário assim, faltou um par de frases à nota da Presidência da República. Algo assim: "Michel Temer tranquiliza a sociedade brasileira. Assegura que vetará qualquer proposta que lhe chegue do Congresso com providências que ameacem o bom andamento da Operação Lava Jato."
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