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Josias de Souza

Ao se omitir, Senado estende tapete para o STF

Josias de Souza

06/12/2016 19h48

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Brasília vive momentos surreais e inéditos. O ano de 2016 parece pequeno para acomodar tudo o que a política já enfiou dentro dele. Testemunhamos o afastamento de uma presidente da República. Assistimos à prisão de um presidente da Câmara. Ambos, Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, espernearam. Mas acabaram se conformando com o ostracismo. Chegou a vez de Renan Calheiros.

Réu, Renan recebeu ordem do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, para deixar a presidência do Senado, retirando-se também da linha de sucessão da Presidência da República. E decidiu simplesmente descumprir a ordem. Fez isso com a cumplicidade da Mesa Diretora do Senado, majoritariamente composta de vassalos.

As manobras de Renan para descumprir a ordem de um ministro do Supremo transformaram a encrenca judicial de um senador num processo de desmoralização do Senado. Renan tentou atrair também o apoio de Michel Temer, que preferiu o silêncio.

Se Deus escolhesse um lugar para morar, seria o Brasil. Como não pode, Renan se oferece para substitui-lo. Alguém precisa mostrar a Renan Calheiros que ele também está sujeito à condição humana. Ao se omitir, o Senado estende um tatepe vermelho os ministros do Supremo Tribunal Federal desfilarem.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.