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Josias de Souza

Aliados vêem risco de Temer cair antes de 2018

Josias de Souza

11/12/2016 04h55

A delação do ex-diretor da Odebrecht Claudio Melo Filho levou o governo de Michel Temer para outro patamar. Um patamar mais rebaixado. Políticos dos partidos governistas incluíram em suas análises a hipótese de o presidente não concluir o mandato-tampão que vai até 2018. Formaram-se entre aliados do presidente dois sólidos consensos: 1) as revelações do delator feriram gravemente o governo; 2) Temer precisa reagir rapidamente, sob pena de ser carbonizado pela Lava Jato.

O blog conversou com um congressistas amigo de Temer. Ele disse ter passado o sábado recolhendo impressões de outros parlamentares e de autoridades do governo. Pendurado ao celular, falou com onze pessoas, algumas delas citadas na delação. Não quis revelar os nomes. Mas contou que nenhum dos seus interlocutores menosprezou o potencial de combustão das revelações do ex-responsável pelo lobby da Odebrecht em Brasília.

Há, porém, uma divisão entre os governistas. A parte do grupo que inclui os delatados avalia que Temer ainda exibe capacidade de reação. Bastaria perseverar nas reformas. O outro pedaço receia que o governo Temer esteja irremediavelmente comprometido. Nessa visão, Temer está diante de uma adversidade que compromete sua pose de reformador. Além de estar pessoalmente envolvido, o presidente rodeou-se de amigos e auxiliaries tóxicos. Pessoas das quais ele tem dificuldades de se livrar.

De resto, a encrenca tende a aumentar. No total, 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht estão suando o dedo. Ainda há muita lama por escorrer. Logo, logo Marcelo Odebrecht prestará depoimento confirmando, por exemplo, que participou de um jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, em que foi mordido em R$ 10 milhões pelo então vice-presidente Michel Temer. Dinheiro saído das arcas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht (pode me chamar de "Departamento de Propinas.)".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.