PEC do teto é como galho que evita afogamento
Vendida inicialmente como uma ponte entre o abismo fiscal e a pujança econômica, a Proposta de Emenda Constitucional do teto dos gastos, aprovada em votação final no Senado, ganhou a aparência de um galho no qual o governo se agarra para tentar evitar o afogamento. Engolfado pelas crises política e econômica, Michel Temer será arrastado de 2016 para 2017 com a água na altura do nariz.
Há poucos dias, o governo e seus operadores políticos falavam em suspender as férias do Legislativo para apressar a análise da reforma da Previdência. Hoje, os congressistas são aconselhados a fazer as malas e sair de cena de fininho. O governo quer evitar marolas. Melhor desligar o Legislativo da tomada do que correr o risco de converter as tribunas da Câmara e do Senado em caixas de ressonância das delações da Odebrecht.
Impopular, Temer começa a se converter numa companhia tóxica. Para atenuar os efeitos do contágio, os aliados, sobretudo os tucanos, cobram do presidente o anúncio de medidas capazes de apressar a reativação da economia. Encostado contra a parede, o governo prepara um pacote de bondades a ser desembrulhado nos próximos dias.
Depois, restará a Temer rezar para que as festas de final de ano congelem a Lava Jato. Algo difícil de obter, já que Marcelo Odebrecht depõem desde segunda-feira na carceragem de Curitiba e deve confirmar o jantar em que foi mordido por Temer em R$ 10 milhões, no Palácio do Jaburu, em maio de 2014.
Quando voltarem das férias, em fevereiro, os congressistas terão pela frente a reforma da Previdência, um projeto duro de roer. Trata-se de um complemento indispensável à emenda do teto dos gastos. Sem ela, admitem os membros da equipe econômica do governo, os efeito benfazejos do congelamento dos gastos públicos serão anulados. E não haverá galho capaz de disfarçar o afogamento.
– Serviço: Veja aqui a lista de votação da PEC dos gastos.
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