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Josias de Souza

PEC do teto é como galho que evita afogamento

Josias de Souza

13/12/2016 14h35


Vendida inicialmente como uma ponte entre o abismo fiscal e a pujança econômica, a Proposta de Emenda Constitucional do teto dos gastos, aprovada em votação final no Senado, ganhou a aparência de um galho no qual o governo se agarra para tentar evitar o afogamento. Engolfado pelas crises política e econômica, Michel Temer será arrastado de 2016 para 2017 com a água na altura do nariz.

Há poucos dias, o governo e seus operadores políticos falavam em suspender as férias do Legislativo para apressar a análise da reforma da Previdência. Hoje, os congressistas são aconselhados a fazer as malas e sair de cena de fininho. O governo quer evitar marolas. Melhor desligar o Legislativo da tomada do que correr o risco de converter as tribunas da Câmara e do Senado em caixas de ressonância das delações da Odebrecht.

Impopular, Temer começa a se converter numa companhia tóxica. Para atenuar os efeitos do contágio, os aliados, sobretudo os tucanos, cobram do presidente o anúncio de medidas capazes de apressar a reativação da economia. Encostado contra a parede, o governo prepara um pacote de bondades a ser desembrulhado nos próximos dias.

Depois, restará a Temer rezar para que as festas de final de ano congelem a Lava Jato. Algo difícil de obter, já que Marcelo Odebrecht depõem desde segunda-feira na carceragem de Curitiba e deve confirmar o jantar em que foi mordido por Temer em R$ 10 milhões, no Palácio do Jaburu, em maio de 2014.

Quando voltarem das férias, em fevereiro, os congressistas terão pela frente a reforma da Previdência, um projeto duro de roer. Trata-se de um complemento indispensável à emenda do teto dos gastos. Sem ela, admitem os membros da equipe econômica do governo, os efeito benfazejos do congelamento dos gastos públicos serão anulados. E não haverá galho capaz de disfarçar o afogamento.

– Serviço: Veja aqui a lista de votação da PEC dos gastos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.