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Josias de Souza

Auxiliares de Temer não são demitidos, têm alta

Josias de Souza

14/12/2016 15h40

O governo tornou-se uma espécie de Centro de Terapia Intensiva. Sob Michel Temer, ministros e assessores não são demitidos. Eles ficam politicamente enfermos, sangram no noticiário e recebem alta para se tratar longe dos corredores do poder. Seis ministros já deixaram o CTI do governo Temer. Nesta quarta-feira, teve alta José Yunes, assessor especial do presidente da República.

Amigo de Temer há cinco décadas, Yunes deixa Brasília depois de ter sido abalroado pela delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Segundo o delator, parte dos R$ 10 milhões que Temer solicitou em 2014 a Marcelo Odebrecht foi entregue em dinheiro vivo a Yunes.

"Vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento", anotou Yunes em carta dirigida a Temer. A carta vem à luz junto com a notícia de que o também delator Marcelo Odebrecht confirmou a versão que Yunes nega.

Temer poderia ter dado alta a Yunes há mais tempo. O risco de contágio ficou evidente há 17 dias, quando o juiz Sergio Moro vetou parte das perguntas que o preso Eduardo Cunha endereçara a Temer, arrolado por ele como testemunha de defesa.

Numa das questões vetadas pelo juiz da Lava Jato, Cunha perguntava se Yunes intermediara o recebimento de dinheiro para campanha de Temer ou para as arcas do PMDB. Se recebeu, foi "de forma oficial ou não declarada?". A delação de Claudio Melo Filho mostrou que havia incêndio atrás da fumaça levantada por Cunha.

Moro rejeitara a pergunta de Cunha porque só o Supremo Tribunal Federal tem poderes para tratar de suspeitas relacionadas a Temer. "Não tem ainda este juízo competência para a realização, direta ou indiretamente, de investigações em relação ao Exmo. Sr. Presidente da República", anotou o juiz da Lava Jato em seu despacho.

Além de Yunes, as delações da Odebrecht empurraram para dentro do Centro de Terapia Intensiva do governo o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o secretário-executivo Moreira Franco (Programa de Parcerias de Investimentos). São duas novas altas esperando para acontecer. Ao retardar o desfecho, Temer potencializa a impressão de que é a sua Presidência que se encontra gravemente enferma.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.