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Josias de Souza

Facções do poder e dos presídios se completam

Josias de Souza

10/01/2017 19h40

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Com o juiz Sergio Moro em férias e o Supremo Tribunal Federal operando em ritmo de recesso, imaginou-se que o noticiário policial poderia dar um refresco entre o Natal e o Carnaval. Mas houve apenas uma troca de personagens. Saíram momentaneamente das manchetes as facções criminosas do poder, que enfraquecem o Estado. Entraram em cena as facções barra-pesada, que aproveitam a impotência do poder público para se organizar e crescer.

As gangues de colarinho branco barbarizam a partir de gabinetes limpinhos e refrigerados. As facções de colarinho puído convertem presídios fétidos em centros decisórios da barbárie. Um grupo limpa os cofres públicos. O outro suja a paisagem de sangue. Num ou noutro caso, o Brasil mantém intacta no estrangeiro sua imagem de país exportador de descalabros.

Há algo em comum entre as facções de colarinho branco e os criminosos de colarinho puído. Os dois agrupamentos promovem a morte. A diferença é que os corruptos não portam armas. Suas vítimas morrem, por exemplo, nos corredores de hospitais sem verba. A bandidagem barra-pesada precisa ser mais explícita para virar notícia. Oferece a matança de rivais com decapitações.

Foi-se o tempo em que o brasileiro sonhava com uma solução para a criminalidade. Hoje, é preciso planejar o futuro levando em conta o insolúvel.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.