Censura judicial aguça curiosidade sobre ‘lama’
Curioso que o Planalto faça tanta questão de impedir, por meio de censura judicial, a veiculação da notícia sobre a chantagem sofrida pela primeira-dama Marcela Temer. O assunto talvez murchasse naturalmente se a assessoria jurídica da Casa Civil não tivesse o cuidado de chamar tanta atenção.
Sabia-se que um hacker invadira os dados armazenados no arquivo remoto associado ao celular da mulher do presidente. Informara-se que o sujeito exigira dinheiro para não divulgar fotos íntimas de Marcela e de seus familiares. Súbito, levantou-se o sigilo do processo.
Folheando os autos, que agora são públicos, a Folha descobriu que havia mais. O chantagista, já preso e sentenciado a 5 anos e 10 meses de cana, cobrava R$ 300 mil para não divulgar o áudio de uma conversa de Marcela com o irmão. O conteúdo "joga o nome do vosso marido na lama", escreveu o bandido em mensagem endereçada a Marcela.
Diálogo contido no pedaço público do processo revela que a primeria-dama reagiu com destemor, rechaçando a chantagem. Mas não há nos documentos que vieram à luz vestígio do conteúdo da conversa de Marcela com seu irmão. Sabe-se apenas que falaram sobre um marqueteiro de Temer, agora empregado como seu assessor.
O Planalto sustenta que a expressão "jogar na lama" está fora de contexto. Não esclarece, contudo, qual seria o contexto apropriado. Preferiu a censura. Não se deu conta de que ela é a mãe de toda curiosidade humana. Michel Temer diz que não houve censura. A Folha recorreu da decisão judicial.
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