Temer inventa demissão em suaves prestações
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Incomodado com o noticiário sobre o complô anti-Lava Jato que se move no eixo Planalto-Congresso, Michel Temer veio à boca do palco para dizer meio dúzia de palavras. Rodeado de auxiliares tóxicos, Temer esclareceu: se algum ministro for denunciado pela Procuradoria, será afastado temporariamente do governo (pode me chamar de licença com vencimentos e foro privilegiado). O denunciado só será demitido se for transformado em réu pelo Supremo Tribunal Federal. Espremendo-se as palavras do presidente, ficou entendido o seguinte: não adianta empurrar, porque Temer não se afastará dos amigos facilmente. Enquanto for possível, permanecerá abraçado a delatados como Moreira Franco e Eliseu Padilha.
Quem ouve de relance, imagina que Temer está sendo rígido. Denunciados subirão no telhado. Réus irão para o olho da rua. Mas, na verdade, o que há é um rebaixamento dos padrões éticos do governo. Romero Jucá, você se lembra, foi afastado do Ministério do Planejamento 13 dias depois de assumir porque sua voz soou num grampo dizendo que era preciso "estancar a sangria" da Lava Jato. Jucá é investigado. Não foi denunciado. Tampouco virou réu. Pelo novo padrão de Temer, Jucá ainda seria ministro.
Há uma esperteza primária no modelo criado por Temer para lidar com auxiliares suspeitos. Em Brasília, a Lava Jato caminha num ritmo de lesma. Na Capital, a Procuradoria é mais lenta do que em Curitiba. A lentidão também é uma das marcas do Supremo. Não é incomum que uma denúncia demore mais de dois anos para ser apreciada na Suprema Corte. Ou seja: o governo Temer vai acabar e ele talvez não precise demitir os amigos.
Foi por isso que Temer inventou a demissão em suaves prestações. Passa a delação. Vem a denúncia. E o sujeito só começa a pagar se virar réu. Temer subestima a inteligência da plateia. O brasileiro não é precisamente contra a embromação. Só não gosta de ser embromado.
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