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Josias de Souza

Reformismo da gestão Temer não chega à ética

Josias de Souza

20/02/2017 20h48

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Engolfado por uma onda de impopularidade, Michel Temer tornou-se um presidente à procura de uma marca. Desde que assumiu a Presidência no lugar de Dilma Rousseff, Temer afirma que não está preocupado com a popularidade. Mas os apologistas e conselheiros do presidente o convenceram de que o seu governo precisa de um símbolo. E decidiram grudar em Temer a marca do presidente "reformista", o gestor capaz de aprovar as reformas que ajudarão a tirar a economia do buraco. Temer comprou a ideia. E começou a se vender em público como presidente das reformas. Foi o que ele fez hoje, em discurso para representantes do agronegócio, em São Paulo.

O movimento é parte de uma estratégia que será aprofundada nas próximas semanas. Em março, o PMDB martelará a imagem desse Michel Temer reformista na propaganda partidária que levará ao ar em rede nacional de rádio e televisão. O partido venderá a tese segundo a qual as reformas de Temer —as já aprovadas e as que estão por vir— melhoram o ambiente de negócios e começam a surtir efeitos.

O diabo é que o reformismo de Michel Temer está escorado numa fórmula vencida. Para aprovar suas reformas no Congresso, Temer compôs um governo loteado e convencional. Toda a podridão que consumiu o governo Dilma, incluindo o PMDB de Temer, deslizou suavemente para dentro do novo governo velho. Temer mantém a cabeça nas reformas e os pés na lama. Falta ao reformismo do presidente uma noção qualquer de ética. Se a Lava Jato serviu para mostrar alguma coisa foi que até o pragmatismo político precisa ter limites.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.