Topo

Josias de Souza

Jucá e Moreira lavam a roupa suja a céu aberto

Josias de Souza

22/02/2017 12h36

O senador Romero Jucá e o ministro Moreira Franco, dois dos principais operadores políticos de Michel Temer, decidiram lavar a roupa suja do PMDB em público. Numa entrevista, Moreira insinuou que o ativismo anti-Lava Jato de Jucá não traduz as opiniões do governo. E Jucá divulgou uma nota oficial para informar que Moreira também não é a pessoa mais indicada para falar sobre a estratégia do PMDB na votação da reforma da Previdência.

Moreira falou ao jornal Valor. Perguntaram-lhe: "O líder do governo no Congresso e também presidente do PMDB, Romero Jucá, fala em 'estancar a sangria' e comparou a Lava Jato à Inquisição. Afinal, ele fala pelo governo?" O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência respondeu em timbre enfático:

"Não, não fala. Ele disse que não falava pelo governo. Quando soubemos, nós ficamos surpresos porque não havia sido feita consulta. Nem eu estou dedando ninguém porque ele próprio disse que não falava em nome do governo. E disse mais hoje, que o mandato é dele, os eleitores são dele e ele, portanto, toma a iniciativa."

Na mesma conversa em que tomou distância de Jucá, Moreira informou que o PMDB não adotará o mecanismo do fechamento de questão na votação da reforma da Previdência. "Não é da nossa cultura", disse o ministro, referindo-se à ferramenta que permite ao partido punir congressistas que votarem contra a reforma. "Nós não vamos nos transformar num partido leninista."

Jucá apressou-se em desmentir o correligionário: "Ao contrário, o partido tem discutido com a bancada federal da Câmara dos Deputados a possibilidade de fechamento de questão" na votação da reforma previdenciária. Realçou que o partido já recorreu ao fechamento de questão "na votação da PEC que limita os gastos públicos."

Irônico, Jucá anotou que "Moreira Franco, um quadro excepcional do PMDB e do governo, ao se manifestar apenas emite uma posição pessoal, que será levada em conta no debate." E insinuou que o ministro fala fora de hora: "A estratégia de votação da reforma da Previdência, que é de vital importância para o país, será discutida no momento adequado dentro do PMDB e com os partidos aliados."

Investigado no Supremo Tribubal Federal, Jucá absteve-se de mencionar no seu texto os comentários de Moreira, delatado por executivo da Odebrecht, sobre suas posições em relação à Lava Jato. Nos últimos dias, o senador fez uma analogia entre o foro privilegiado e a "suruba". E comparou o trabalho da imprensa ao nazismo, ao fascismo, à Inquisição e à Revolução Francesa.

Moreira deu a entender algumas opiniões do líder do governo são incômodas: "Não é fácil. Não é fácil um líder falar uma coisa, ter a reação que teve, ser líder do governo e dizer que não era líder do governo quando falou aquilo. Não é fácil. Me desculpa, mas não é fácil. É difícil."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.