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Josias de Souza

Política virou uma massa uniforme de cúmplices

Josias de Souza

28/02/2017 21h44

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Expostos na vitrine da Lava Jato, os partidos políticos reagem às investigações que os desmoralizam com uma naturalidade hedionda. A reação faz lembrar um fenômeno que a filósofa alemã Hannah Arendt chamou de "a banalidade do mal". A penúltima evidência do fenômeno foi fornecida pelo presidente do PT, Rui Falcão. Ele defendeu num artigo que a liminar do ministro do STF Marco Aurélio Mello que libertou o ex-goleiro Bruno deveria ser, por assim dizer, estendida aos presos petistas da Lava Jato. Para ele, deveriam ser soltos imediatamente José Dirceu, condenado a mais de 20 anos de cadeia, João Vaccari, condenado a mais de 34 anos, e Antonio Palocci, uma sentença esperando na fila.

O brasileiro gosta de se iludir. Costuma imaginar que o Brasil nunca mais será o mesmo depois de cada grande escândalo. Mas o mesmo sempre volta. Os mesmos políticos viscosos, a mesma grandeza da vista curta, a mesma generosidade dos interesses mesquinhos. Tudo protegido pela conveniência dos interesses partidários e pela leniência do eleitor.

O PT não é a única legenda a se render à banalidade do mal. Outros partidos reagem às delações, aos inquéritos e às denúncias com profunda normalidade. Ninguém expulsa ninguém. Pior: algumas das principais legendas do país, como PMDB e PSDB, são presididas por políticos processados no Supremo Tribunal Federal. Costuma-se dizer que há muita gente honesta na política. O problema é que quem olha não distingue culpados de inocentes. Só enxerga uma massa uniforme de cúmplices.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.