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Josias de Souza

Henrique Alves diz desconhecer fortuna entesourada em conta aberta na Suíça

Josias de Souza

03/03/2017 03h47

Para entender a crise ética que transforma o Brasil de nação do futuro em país do faturo é preciso um certo distanciamento. Que pode começar com a abertura de uma contra secreta na Suíça. Deu-se o inverso, porém, com o ex-presidente da Câmara e ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Sumiu-lhe o tirocínio depois que ele abriu, em 2008, sua conta bancária em Genebra. Guarda um ótimo pé-de-meia: US$ 832,9 mil —coisa de R$ 2,5 milhões. Mas o correntista ilustre alega não ter a mais remota ideia de como essa dinheirama aterrissou na sua conta.

Em notícia veiculada no Globo, o repórter André de Souza informa que o Ministério Público Federal já fez para Henrique Alves o favor de identificar a origem do dinheiro. Trata-se de propina oferecida pela construtora Carioca Engenharia em troca da liberação de verbas do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS), gerido pela Caixa Econômica Federal.

Em função da descoberta, a Procuradoria processa o ex-deputado em Brasília pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Informa nos autos que a propina pingou na conta em três depósitos. Foram feitos em outubro, novembro e dezembro de 2011. A abertura da ação penal não restaurou o discernimento de Henrique Alves.

"É importante ressaltar que a utilização indevida da citada conta bancária e os depósitos mencionados jamais foram de conhecimento do acusado", escreveram os advogados Marcelo Leal e Luiz Eduardo Ruas do Monte na peça de defesa de Henrique Alves. Alegam que dificuldades burocráticas levaram seu cliente a desistir de movimentar a conta aberta na Suíça.

Para azar de Henrique Alves, o processo corre na 10ª Vara Federal de Brasília. Ali, despacha o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, uma espécie de Sérgio Moro da Capital federal. O doutor não parece afeito a histórias da carochinha.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.