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Josias de Souza

Partidos convidam a Justiça Eleitoral a puni-los

Josias de Souza

04/03/2017 00h16

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Os depoimentos de delatores da Odebrecht ao ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, levam à vitrine um subproduto que vai muito além do processo que pode resultar na cassação do mandato de Michel Temer e na decretação da inelegibilidade de Dilma Rousseff. As inquirições reforçam a sensação de que os partidos políticos brasileiros apodreceram. Além do PT de Dilma e do PMDB de Temer, os delatores acomodam no lixão partidário legendas como o PDT e até o PSDB, que é o autor da ação que o TSE terá de julgar.

Há hoje no Brasil 35 partidos formalmente registrados na Justiça Eleitoral. Há outros 40 na fila. Não há ideologia nesse fenômeno. Os partidos viraram um grande negócio. Transformaram-se em paraísos fiscais custeados por propinas, caixa dois e pelo déficit público. A lei prevê a punição de partidos picaretas. As penas incluem a perda do dinheiro do Fundo Partidário e a até cassação da legenda. Em vez de criar, a Justiça Eleitoral deveria começar a extinguir partidos. Com meia dúzia, o país estaria bem servido.

Nos depoimentos dos delatores da Odebrecht, afora a reiteração da acusação de que os tucanos também se lambuzaram no caixa dois da construtora, informou-se que o PDT, que tenta empinar a candidatura presidencial de Ciro Gomes, vendeu por R$ 4 milhões sua adesão à chapa vitoriosa na disputa presidencial de 2014. Insinuou-se que a xepa partidária incluiu pagamentos a outras legendas —do direitista PRB ao comunista PCdoB. Vivemos uma fase pós-ideológica em que vigoram quatro poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e o Dinheiro

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.