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Josias de Souza

Invulnerável, Temer exagera na falta de recato

Josias de Souza

06/03/2017 20h33

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O governo de Michel Temer tornou-se o túmulo do recato. O pudor perdeu o sentido. Num instante em que o Tribunal Superior Eleitoral levanta os podres da campanha de 2014 e a Procuradoria-Geral da República se prepara para formalizar uma avalanche de inquéritos decorrentes das delações da Odebrecht, o presidente promove no Congresso uma despudorada dança de cadeiras.

Temer confirmou no final de semana que Romero Jucá (PMDB) —oito inquéritos no Supremo Tribunal Federal, três deles na Lava Jato— responderá pela liderança do governo no Senado no lugar do tucano Aloysio Nunes (PSDB), deslocado para o Itamaraty. O deputado André Moura (PSC) —cinco inquéritos e três ações penais no Supremo— será líder do governo no Congresso, posto que era exercido por Jucá.

Dias atrás, Temer havia desalojado Moura da liderança do governo na Câmara, acomodando em seu lugar Aguinaldo Ribeiro (PP), outro investigado no Supremo sob acusação de receber mensada no petrolão.

Há no Senado 81 senadores. Na Câmara, 513 deputados. Mas o presidente tem fixação por aliados enrolados. Responder a processo no Supremo virou uma pré-condição para ser aproveitado no governo Temer.

O que mais espanta na movimentação de Temer é a sensação de que o presidente se considera invulnerável. Temer segura ministros suspeitos, cerca-se de aliados processados, dá de ombros para a Lava Jato e trama a protelação do julgamento do seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral.

Com novo sentido, o pudor faz coisas impensáveis em Brasília. E já nem fica vermehinho.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.