Com Renan de aliado, Temer dispensa oposição
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Desde que deixou a presidência do Senado, Renan Calheiros tem feito dupla jornada. Como líder do governista PMDB, o senador revela-se um inusitado comandante da oposição ao Planalto. Com a lealdade a Michel Temer já extremamente cansada, Renan encena em público um rompimento em conta-gotas. Simultaneamente, renegocia no escurinho o preço de sua fidelidade. A julgar pela acidez da oratória de Renan, o governo ainda não enxergou o valor do seu quase ex-aliado.
Depois de dizer que a reforma da Previdência de Temer é "exagerada" e de insinuar que o Planalto segue ordens de Eduardo Cunha, emadas desde uma cela do sistema penitenciário pranaense, Renan voltou à carga. Nesta quarta-feira, declarou que o governo "já inviabilizou" a reforma da Previdência. Afirmou que, do modo como age, "precipitadamente", o Planalto acabará sepultando também as reformas trabalhista e tributária.
Convidado pelos repórteres a trocar em miúdos suas críticas, Renan limitou-se a dizer que a bancada do PMDB, a maior do Senado, com 22 votos, precisava ter uma conversa "franca e aberta" com o companheiro Temer. Franca? Talvez. Aberta? Jamais. Renan e seus liderados jantaram com Temer na noite passada, a portas fechadas. No próximo encontro de Renan com os microfones, a plateia saberá se o Planalto conseguiu decifrar o enigma da Esfinge alagoana.
Enquanto não chega a um acerto com Temer, Renan faz da crítica estridente ao governo um mecanismo para atenuar o barulho provocado por sua inclusão na segunda lista de pedidos de inquéritos da Procuradoria-Geral da República, decorrentes da colaboração da Odebrecht. O senador talvez precise aumentar o volume de suas queixas. Soube-se que seu herdeiro, o governador alagoano Renan Filho, também foi acomodado pelo Ministério Público Federal na fila de investigados do Supremo Tribunal Federal.
É pena que o delatado Michel Temer não tenha condições políticas de esboçar uma reação à altura do posto que ocupa. No comando de um governo com meia dúzia de ministros enrolados na nova fase da Lava Jato, Temer não tem autoridade para responder ao "decifra-me ou te devoro" de Renan com um desafiador "devora-me ou te decifro". Segue a autofagia.
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