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Josias de Souza

FHC: ‘Políticos, todos, estamos mal das pernas’

Josias de Souza

22/03/2017 12h42

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"Os políticos, todos, estamos mal das pernas", disse Fernando Henrique Cardoso num vídeo veiculado na internet. Ele criticou na peça o modelo de "reforma política" em discussão na Câmara. Bateu especialmente no voto em lista fechada —aquele em que o eleitor escolhe na urna um partido, não o candidato de sua preferência, elegendo nomes indicados por caciques da legenda.

"Os nossos partidos, hoje, vamos falar com franqueza, vão muito mal das pernas. Os políticos, todos, estamos mal das pernas. Então, não acho que seja o momento de fazer proposta. Vamos fazer agora uma lista fechada. Quem escolhe quem vai ser o primeiro, segundo e terceiro eleitos vai ser a direção do partido. E o povo vai votar em partidos. Quais? O povo nem sabe os nomes dos partidos. Não são partidos, a maioria, são legendas.

O líder máximo do tucanato enxerga segundas intenções atrás de ideias como o voto em lista: "Não dá para aprovar nada que tenha cheiro de impunidade. Uma lei que tem por objetivo evitar que a Lava Jato vá adiante. Não pode. As leis estão aí. Quem errou vai pagar", disse, insinuando que a lista fechada dos partidos serviria como escudo para eleger encrencados no escândalo. Um escândalo que a colaboração da Odebrecht tornou multipartidário, engolfando inclusive os presidenciáveis tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra.

Em nota divulgada no início de março, FHC criticara a imprensa por não diferenciar os políticos corruptos daqueles que cometeram o "erro" de receber doações de campanha no caixa dois. Fez isso para sair em socorro de Aécio Neves, que estava pendurado nas manchetes de ponta-cabeça. No vídeo, o ex-presidente tucano se reposicionou em cena. Chamou caixa dois pelo nome: "é crime".

"Quem errou vai pagar, depende do que fez. Fez corrupção? Ganhou dinheiro porque tirou dinheiro da Petrobras, da Eletrobras, onde seja? Ou por que recebeu dinheiro para fazer uma lei a favor desta empresa? É crime na verdade de corrupção. E não declarou? É falsidade ideológica. E caixa 2 também é crime, mas é outro tipo de crime, capitulado no Código Penal. Deixa que a Justiça separe: o que é caixa 2, o que é crime de corrupção. O que pode ser punido com a não-eleição, o que vai para a cadeia. […] quem tem que opinar nessa matéria é a Justiça."

FHC defendeu no vídeo que os deputados se debrucem sobre projetos já aprovados no Senado. Mencionou dois: o fim das coligações partidárias e a chamada cláusula de barreira. "Reforma política viável, hoje, é aprovar o que já está na Câmara", afirmou, antes de esmiuçar os motivos para acabar com as coligações. "Você vota num [candidato] e elege outro. Se dois partidos se coligam, você não sabe em quem está votando. Então, é melhor proibir."

Sobre a cláusula de barreira, FHC afirmou: "É muito importante também que haja uma lei que diga: olha, um partido que não recebeu 'X' votos em tais números de Estados não vai ter representação na Câmara. Não tem vantagens na Câmara, porque não é partido, tentou ser partido."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.