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Josias de Souza

‘Não direi amém só porque o DEM virou Temer’

Josias de Souza

11/04/2017 04h14

Filiado ao governista DEM, o deputado gaúcho Ônix Lorenzonni revelou-se um dos mais ferrenhos críticos do governo na comissão especial da Câmara sobre a reforma da Previdência. Seu nome foi citado em reunião de Michel Temer com ministros e líderes partidários como exemplo de parlamentar a ser enquadrado. Até colegas de legenda —entre eles o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ)— reprovaram seu comportamento. Informou-se a Temer que o DEM cogita retirar Lorenzonni da comissão. Ele ocupa uma assento de suplente. Mencionou-se inclusive uma carta de advertência que teria sido enviada ao parlamentar.

Ouvido pelo blog, Ônix deu de ombros: "Não direi amém para o governo só porque o DEM virou Temer." O partido está representado na Esplanada pelo deputado licenciado Mendonça Filho, titular do Ministério da Educação. O Planalto cobra lealdade. Mas Ônix não parece disposto a contribuir com o seu voto. "Tenho independência. Entre os 158 mil gaúchos a quem devo lealdade e os interesses do governo, vou ficar sempre com a sociedade que me elegeu. Ninguém nega a necessidade de reformar a Previdência. Mas essa reforma proposta pelo governo é muito ruim."

O deputado disse que ninguém o procurou. Realçou que o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), tem o seu número de celular. "Ele pode me ligar a qualquer momento, não precisa mandar carta. O líder pode trocar os representantes do partido na comissão quando bem entender. Se quiserem me tirar, que tirem! Eu não vou pedir para sair."

Na opinião de Ônix, Temer deveria propor uma reforma restrita a um tópico: a elevação da idade mínima para aposentadoria: 65 anos para homens e mulheres. "Até aí, seria aceitável. E ponto final. O próximo presidente, legitimado pelo voto popular em 2018, faria uma reforma profunda da Previdência. Uma reforma discutida com a sociedade na campanha eleitoral. Não dá para aprovar uma coisa dessas no tranco, como quer o governo. Se a votação fosse hoje, o governo sofreria uma derrota vergonhosa."

O Planalto elabora um mapa de votação na Câmara. Discute-se a sério a hipótese de expurgar da comissão rebeldes como Ônix. Nesta terça-feira, Temer reúne-se no Planalto com líderes partidários, ministros e membros da comissão especial. Suplente, Ônix não foi convidado. Relator da proposta, o deputado Arthur Maia (PPS-BA) vai expor aos presentes o texto mais recente da reforma, que incorpora suavizações negociadas com Temer. O Planalto espera que, feitos os ajustes, seus aliados digam "amém" no Congresso.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.