Temer fala de futuro com gente de passado sujo
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Ao escancarar a evidência de que a política tem código de barras e estava na prateleira para ser comprada por organizações como a Odebrecht, a Lava Jato aguçou o instinto de sobrevivência dos políticos brasileiros. Para entender os próximos lances da crise, você deve prestar atenção em dois movimentos. O governo Temer dirá aos parlamentares que o país não tem futuro se o Congresso não aprovar as reformas trabalhista e previdenciária. E os congressistas, fingindo que não têm passado, tentarão apressar uma pauta que lhes permita surfar no mar de lama: anistia do caixa dois, fundo público de financiamento eleitoral e voto com lista fechada, para esconder candidatos sujos do eleitorado.
Os dois lados têm pressa. Depois que as delações da Odebrecht ganharam o noticiário os relógios de Brasília já não têm ponteiros, mas espadas. Há mais mortos do que vivos no comando das articulações. E essa atmosfera fúnebre começa a produzir maquinações sombrias. Um grupo de deputados ameaça levar as reformas do Planalto em banho-maria se o governo não demonstrar empenho pela aprovação do kit de salvação dos mandatos ameaçados.
O governo fará na terça-feira um teste de prestígio. Temer convidou para um café da manhã no Palácio da Alvorada todos os deputados do condomínio governista. Na ponta do lápis, são 411 dos 513 deputados. Se comparecerem 300, o presidente soltará fogos. O número mínimo para aprovar uma emenda constitucional é de 308 votos. O governo talvez devesse evitar a divulgação de imagens do café da manhã. Haverá na mesa uma profusão de autoridades e parlamentares sob investigação. A exposição da cena pode passar a ideia de um abraço de afogados.
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