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Josias de Souza

Dilma compara Doria e Luciano Huck a tecnocratas 'produzidos pela ditadura'

Josias de Souza

19/04/2017 05h21

Dilma Rousseff torceu o nariz para duas opções presidenciais que emergem nas pegadas da crise de representatividade do sistema político: o prefeito paulistano João Doria e o apresentador de tevê Luciano Huck. Comparou-os aos tecnocratas construídos pela ditadura militar a partir da "noção de que tinha de se higienizar a política." Disse considerar "lamentável" que projetos apolíticos surjam como consequência da "despolitização da sociedade."

Dilma fez essas afirmações na Universidade George Washington, na capital Americana. Após proferir uma palestra, disponível na sua página no Facebook, ela respondeu a perguntas de uma plateia companheira. Uma das indagações foi sobre as candidaturas de "pessoas famosas". Foram mencionados especificamente os nomes de Doria e Huck. "Isso se relaciona com a falta de alfabetismo político dos brasileiros?", quis saber a autora da questão, que se identificou como brasileira do interior de São Paulo.

E Dilma: "…Não podemos impedir e achar que alguém não tem o direito de concorrer. O problema é se eu voto ou se eu concordo em votar numa proposta pretensamente apolítica. Eu acho que qualquer proposta apolítica é tecnocrática. O que é ser tecnocrata? […] Ele surge com a ditadura. Ele é um produto direto da ditadura. Eles constroem a noção de que tinha de se higienizar a política. E, ao higienizar a política, se criam os grandes técnicos, acima do voto direto, das carências da democracia, da incapacidade do nosso povo de ser mestre de si mesmo. O tecnocrata vinha decidir e fazer as escolhas políticas adequadas e a gestão adequada da atividade econômica, da atividade administrativa. Agora, surgiu um outro tipo, ou dois tipos."

Sobre Doria, que se elegeu prefeito de São Paulo cavalgando o discurso de que é empresário, não político, Dilma afirmou: "…Economia, no sentido do empresário, é cuidar de si mesmo, dos seus interesses. Não necessariamente uma pessoa que cuida de si mesmo com eficiência, dos seus interesses, será uma pessoa que corresponderá aos anseios do seu povo."

Sobre Luciano Huck, que deixou no ar a hipótese de se candidatar numa entrevista recente, a ex-presidente petista declarou: "As pessoas confundem auditório de um show de mídia com a solução dos problemas sociais. […] Eu fui lá, chamei uma senhora, trouxe no meu programa, resolvi o problema dela. Veja como eu sou competente. Vá resolver o problema de 56 milhões de pessoas pra ver se é assim, com essa facilidade!"

Referindo-se a ambos, Dilma completou: "Eu acho  que isso surge quando começa a criar o espaço da despolitização na sociedade. E é lamentável que seja assim." Antes, Dilma havia reiterado seu lero-lero a favor da re-re-recandidatura de Lula em 2018. Num instante em que a colaboração da Odebrecht aperta a corda no pescoço do seu padrinho político, Dilma apresentou-o como alvo de violenta "campanha de destruição de reputação."

"Se o Judiciário quiser afastá-lo [da sucessão presidencial], terá de pensar bastante, porque são muito frágeis as provas contra ele", opinou.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.