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Josias de Souza

Para reverter derrota, Temer mobilizou ministros

Josias de Souza

19/04/2017 21h14

Ciente de que o apoio no Congresso é o único patrimônio político de que dispõe, Michel Temer pegou em lanças para reverter uma vexatória derrota legislativa. Um dia depois de ser rejeitado, um pedido de urgência para a tramitação da proposta de reforma trabalhista foi aprovado pelo plenário da Câmara na noite desta quarta-feira. Deve-se a conversão da derrtoa em triunfo a uma mobilização comandada por Temer. Pendurado ao telefone, o presidente mobilizou ministros e líderes partidários. Cobrou fidelidade. E o requerimento foi confirmado por 287 votos a 144 (veja aqui a lista de votação). A coisa passou com 30 votos além do mínimo necessário. Na véspera, faltaram 27 votos.

Temer estruturou a reação já na noite de terça-feira. Com a derrota latejando no noticiário, telefonou e pediu que ligassem para os ministros que estão na Esplanada como representantes de logomarcas partidárias. Gente como Gilberto Kassab (PSD), titular da pasta das Comunicações; Maurício Quintela Lessa (PR), dos Transportes; Mendonça Filho (DEM), da Educação; Bruno Araújo (PSDB), das Cidades; e Marcos Pereira (PRB), da Indústria e Comercio. Os ministros foram incumbidos sobretudo de convocar os ausentes e virar os votos dos infiéis, contados na casa das sete dezenas. Acionaram-se também os líderes dos partidos e, sobretudo, o líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP). Funcionou.

Na prática, a mobilização refrescou a memória dos governistas sobre a natureza do governo Temer. Ao compor a sua equipe, o substituto constitucional de Dilma Rousseff caprichou na área econômica, selecionando personagens como Henrique Meirelles (Fazenda), respeitados por empresários e pelo mercado financeiro. Nas outras pastas, Temer estruturou, sem qualquer escrúpulo ou hesitação, não um gabinete dos melhores, mas dos politicamente mais rentáveis. Agora, o presidente cobra a reciprocidade.

De resto, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, corrigiu um "erro" tático que cometera na noite anterior. Ele encerrara a votação antes do prazo regulamentar. Tinha pressa para votar a matéria seguinte, a proposta de renegociação das dívidas dos Estados, entre eles o seu Rio de Janeiro. Não se deu conta de que o governo ainda não levara ao painel eletrônico da Câmara os 257 votos de que precisava. Nesta quarta-feira, Maia deu ao bloco governista todo o necessário. Fez isso sob protestos da oposição, que o acusou de reeditar os métodos de Eduardo Cunha.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.