Sem prisões longevas, a Lava Jato não existiria
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Alguns ministros do Supremo acham sinceramente que estão sentados ao lado de Deus. No julgamento sobre a libertação de José Dirceu, ficou provado que, se Deus existe, Ele não é full time. O Todo-Poderoso abandonou a sessão da Segunda Turma do Supremo e foi tratar de alguma outra coisa no instante em que foi aberta a cela de Dirceu. Considerou-se que a prisão era alongada e não havia contra Dirceu uma condenação de segunda instância. Levando-se os argumentos às últimas conseguências, talvez nem houvesse Lava Jato. Sem prisões preventivas longevas, o doleiro Alberto Yousseff continuaria operando, petrolarápios como Pedro Barusco e Paulo Roberto Costa estariam desfrutando de suas fortunas na Suíça e o Departamento de Propinas da Odebrecht ainda seria o dono da República.
Não é preciso sair da Segunda Turma do Supremo para perceber que Dirceu poderia ter ficado na cadeia. O relator Edson Fachin e o decano Celso de Mello enumeraram sólidas razões para manter a prisão preventiva. Mas quis a providência divina que Dias Tofolli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes encontrassem na mesma legislação motivações a favor de um preso que não hesitou em sapatear sobre a autoridade do próprio Supremo, recebendo propinas antes, durante e depois do julgamento do mensalão.
O mais irônico, é que há nas cadeias brasileiras 221 mil presos provisórios, sem sentenças definitivas. Pela lógica do Supremo deveriam estar todos soltos. Mas falta-lhes poder, dinheiro e os bons advogados que, nas pegadas de Dirceu, tentarão a liberdade de Marcelo Odebrecht, Antonio Palocci, João Vaccari, Renato Duque, Eduardo Cunha e um enorme etcétera. A Lava Jato mostrou que o combate à corrupção sistêmica exige a aplicação da lei nos seus limites mais extremos. O Supremo começou a questionar esse método. A Justiça pode ser cega. Mas nas folgas de Deus, ela adquire um olfato extraordinário.
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