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Josias de Souza

Temer precisa decidir: ex-presidente ou estorvo?

Josias de Souza

24/05/2017 21h21

Brasília vive sob atmosfera de franca anormalidade. Não bastasse a crise política, sindicatos e movimentos sociais transformaram o que deveria ser um ato pacífico contra Michel Temer e suas reformas num quebra-quebra que resultou em danos físicos e ao patrimônio de todos os brasileiros. A anormalidade se reflete também no Congresso. Ali, os parlamentares oscilam entre o gritaria e o empurra-empurra. Contra esse pano de fundo conturbado, há em Brasília um governo que já não governa os acontecimentos, é governado pelos fatos.

A ideia de que Temer dirige o país nesta ou naquela direção é uma ilusão. A essa altura, o suposto presidente tem dificuldades até para exercer poder efetivo sobre o grupo de cerca de 50 pessoas que o assessoram mais diretamente. Do lado de fora, o Planalto ganhou o adorno de soldados do Exército, acionados para manter a ordem, evitando o incômodo de manifestantes arruaceiros.

Nesse contexto, aproxima-se o momento em que Michel Temer terá de decidir que papel deseja desempenhar. O núcleo central do seu governo apodreceu. Seus aliados lhe dão as costas. As lideranças políticas, ou o que restou delas depois da Lava Jato, negociam o pós-Temer. Dá-se de barato que o presidente já não consegue passar nem a impressão de que comanda. Restam a Temer dois papeis: o de ex-presidente ou o de estorvo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.