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Josias de Souza

Moreira virou sujeito oculto de embate no STF

Josias de Souza

01/06/2017 20h21

O julgamento sobre a restrição do foro privilegiado foi interrompido no Supremo Tribunal Federal por um pedido de vista. Coube ao ministro Alexandre de Moraes, guindado à suprema Corte por indicação de Michel Temer, pedir prazo para analisar melhor uma causa já bem manjada. O protagonista da sessão, suprema ironia, foi um personagem ausente.

Moraes falou por cerca de uma hora e meia. Soou tão eloquente que o pedido de vista pareceu desnecessário. A certa altura, o indicado de Temer declarou que não há comprovação estatística de que o foro especial resulte na impunidade de congressistas e autoridades. Reconheceu que o sistema judiciário é "disfuncional". Mas sustentou que "não há relação entre aumento da impunidade com as hipóteses de foro privilegiado."

Relator do processo, o ministro Luís Roberto Barroso rebateu: "Basta abrir os jornais para saber que manter a jurisdição do Supremo é uma bênção porque supõe-se —a meu ver com acerto— que a jurisdição de primeiro grau vai ser mais ágil e mais eficiente. Não há argumento capaz de desfazer a realidade óbvia de que por lei, medida provisória ou nomeações, se quer assegurar o foro no Supremo. E há de haver alguma razão para isso."

O sujeito oculto do raciocínio de Luís Barroso é Moreira Franco, que acaba de ser brindado por Temer com a reedição de uma medida provisória que lhe mantém sob os glúteos a poltrona de ministro de Estado e o escudo do foro especial. Alexandre Moraes ainda era ministro da Justiça de Temer quando Moreira, o "Angorá" das planilhas da Odebrecht, ganhou status de ministro para fugir da grelha da força-tarefa de Curitiba.

Três ministros deram de ombros para o pedido de vista de Alexandre de Moraes e anteciparam seus votos. Acompanharam a posição de Barroso, favorável à restrição do foro aos crimes praticados no cargo e em razão do exercício da função do parlamentar ou da autoridade, os colegas Marco aurélio Mello, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Com mais dois votos, chega-se à maioria. Aguarda-se com enorme ansiedade a posição de Alexandre Barroso.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.