Quem tolera Aécio não pode gritar ‘fora, Temer’
A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Aécio Neves transformou a realidade do PSDB em algo inacreditável. O partido vinha se comportando como um ente superior, que fazia ao país o favor de sustentar um presidente precário, em franca deterioração moral. No exato instante em que o tucanato eriça as plumas num debate interno sobre a conveniência de tomar distância de Michel Temer, o procurador-geral Rodrigo Janot informa que a corrupção não diferencia o PSDB do PMDB ou de Temer. Ao contrário, ela os associa.
Nada de novo no ninho. O tucanato repete com Aécio todos os erros que cometeu com outro político mineiro: Eduardo Azeredo. Em 1998, a coligação de Azeredo pleiteou a reeleição financiada por um empréstimo de fancaria obtido pelo operador Marcos Valério no Banco Rural.
Quando as manchetes estamparam a notícia de que o mensalão do PT tinha um DNA tucano, o PSDB se fingiu de morto. Azeredo foi denunciado. E o tucanato não tomou conhecimento. Azeredo renunciou ao mandato de deputado para fugir de uma condenação no Supremo. E nada. Azeredo foi condenado na primeira instância. Nem sinal de uma reprimenda partidária. Expulsão? Nem pensar!
Flagrado em diálogos inadmissíveis com o delator Joesley Batista, da JBS, Aécio foi afastado do exercício do mandato de senador pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Viu-se compelido, então, a tirar uma licença da presidência do PSDB. Mas não se deu por achado. Há dois dias, divulgou na internet uma foto sui generis (veja lá no alto). Escreveu na legenda: "Reuni-me na noite desta terça-feira, 30/05, com os senadores Tasso Jereissati, Antonio Anastasia, Cássio Cunha Lima e José Serra. Na pauta, votações no Congresso e a agenda política."
Quer dizer: Aécio continua sendo o personagem mais limpinho que Aécio já conheceu. Ele avalia que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. Por mal dos pecados, a denúncia contra o presidente informal do PSDB encontra-se nas mãos do ministro Marco Aurélio Mello, um magistrado que se vangloria de não julgar pelo nome estampado na capa, mas pelo conteúdo do processo.
A denúncia do procurador-geral será julgada na Segunda Turma, a mais draconiana do Supremo. São grandes as chances de Aécio ser convertido em réu numa ação penal. Quanto ao PSDB, o partido faria um enorme bem a si mesmo se parasse de enganar a plateia. Quem suportou Eduardo Azeredo e tolera Aécio Neves e otras cositas más não pode gritar 'fora, Temer.'
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